O equipamento que mede a capacidade de a água fluir no solo está próxima de ser disponibilizada ao setor produtivo. Sendo desenvolvido em parceria entre a Embrapa Solos (RJ) e o Centro Brasileiro de Pesquisa Físicas (CBPF), o permeâmetro digital despertou o interesse da empresa Falker que deverá embarcá-lo em mais de um produto para diagnóstico de solos. A empresa espera ter um protótipo da tecnologia dentro dos próximos oito meses e, logo em seguida, pretende disponibilizar versões comerciais.
De acordo com as informações da Embrapa, o permeâmetro é o tipo de equipamento mais usado no mundo para avaliar a condução da água nos solos. A tecnologia desenvolvida pela CBPF e pela Embrapa faz a coleta de dados digitalmente usando um computador de baixo custo.
Economia de tempo e maior precisão
A avaliação da condutividade hidráulica do solo é um trabalho demorado, que depende de um técnico treinado para fazer a coleta. O novo permeâmetro automatiza essa coleta dos dados de fluxo de água pelo solo e registra o seu tempo. Com esses dados, a geometria do aparelho e do poço escavado, é possível estimar com precisão a condutividade hidráulica do solo.
O equipamento registra os dados em um cartão de memória. A tecnologia permite acompanhar as avaliações e registrar os dados em um telefone celular por conexão bluetooth. Além disso, não é necessário o uso de um laptop no campo. Estudos de validação e comparação com equipamentos manuais já foram feitos e serão validados em outros solos e regiões do Brasil.
“Acreditamos que o resultado desse projeto pode gerar um produto que complemente a linha de produtos da empresa. Os diagnósticos relacionados à física do solo são complementares ao que já trabalhamos”, informa o engenheiro Marcio Albuquerque, CEO da Falker, ressaltando que a empresa é atualmente a principal fabricante nacional de penetrômetros, outro equipamento também voltado à análise de solos.
Com esse aparelho, o técnico responsável, que anteriormente passava horas registrando manualmente os valores de fluxo, agora é liberado para realizar outras avaliações e coletas, aumentando a produtividade e a eficiência das atividades no campo. Além disso, o equipamento possui uma leitura precisa em milímetros e registra o tempo em décimos de segundo, o que aprimora a precisão dos dados coletados. A vantagem desse novo dispositivo reside no fato de que as medições são obtidas de forma digitalizada.
Os desenvolvedores dessa nova tecnologia têm expectativas de que esse seja o primeiro de uma série de produtos destinados a realizar avaliações das propriedades do solo diretamente no campo. Essa abordagem é particularmente interessante para os produtores, uma vez que a condutividade hidráulica saturada e a infiltração são parâmetros fundamentais para a agronomia, especialmente no contexto da irrigação, e auxiliam na análise dos riscos climáticos.
“Profissionais ligados à engenharia ambiental têm uma grande demanda dessas análises para construção de aterros sanitários, por exemplo. Na área da hidrologia, os dados são usados no cálculo de recarga de aquíferos”, declara o pesquisador da Embrapa Wenceslau Teixeira, ressaltando que a condutividade hidráulica é um parâmetro bastante raro, porque a sua avaliação é bastante morosa.
“A minha expectativa é que, com um equipamento com custos reduzidos em relação aos importados e com coleta automática, com redução do esforço, nós podemos aumentar a disponibilidade desse parâmetro e difundir o seu uso em outros projetos”, prevê o cientista.
Parceria
A parceria entre a Embrapa, a CBPF e a Falker visa transformar um protótipo de pesquisa em um produto comercial, o que requer adequá-lo às linhas de produção, testar sua robustez, além de realizar os procedimentos de calibração e manutenção, o design e a capacidade de chegar ao consumidor final, entre outras questões que surgem no desafio da inovação tecnológica.
“A Falker identificou o potencial da técnica que publicamos e, em colaboração com a Embrapa Solos, estamos desenvolvendo um equipamento inovador, funcional e economicamente viável. Isso é um exemplo claro de pesquisa e desenvolvimento (P&D)”, diz o pesquisador do CBPF Geraldo Cernicchiaro. Ele conta que a Embrapa Solos e o CBPF têm um longo histórico de parceria, entre elas um método e um dispositivo de avaliação de propriedades físico-hídricas do solo.
Cernicchiaro conta que a produção de protótipos se dá em uma escala limitada com foco na demonstração do conceito, na compreensão dos princípios de funcionamento, na obtenção de resultados e na publicação científica.
“No entanto, para que esse dispositivo ou sistema de medidas seja disseminado e tenha um impacto relevante nos processos produtivos, é necessária a produção industrial do equipamento, de modo que reduza os custos e democratize o acesso”, diz ele.
O protótipo em desenvolvimento na Falker será validado em breve, com avaliações no campo. “Esperamos fazer um primeiro anúncio do produto no próximo Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, em agosto, em Florianópolis”, prevê Márcio Albuquerque.
“Todos os parceiros estão bastante empolgados e otimistas. Acreditamos que o trabalho irá avançar de maneira célere com expectativa que dentro de seis a oito meses já tenhamos um protótipo-piloto e, em seguida, o produto comercial sendo ofertado ao mercado”, acredita a analista da Embrapa Solos Gizelle Bedendo.
Inovação aberta
“Estamos trabalhando com a Falker e o CBPF a partir do conceito de inovação aberta e o codesenvolvimento do produto. Do ponto em que se encontra hoje a tecnologia traz desafios técnicos de evolução do produto e também de escalonamento. Assim, a parceria com a Falker visa aportar essa complementaridade para entregarmos um produto final tecnicamente eficiente e comercialmente viável”, relata Bedendo.
“Queremos levar ao mercado um produto que possa ser usado não apenas por pesquisadores, mas por consultores, agrônomos e, futuramente, também pelos próprios produtores”, declara o CEO da Falker.
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