No relevo de leves ondulações do município de Encruzilhada do Sul, cantinas de grife da serra gaúcha como Casa Valduga, Lidio Carraro e Chandon começaram no início dos anos 2000 a implantação de vinhedos que hoje dão origem a vinhos internacionalmente premiados e chegam a custar mais de R$ 200 a garrafa.
? A região tem boa ventilação e insolação, o que contribui para a maturação das uvas e é importante para a qualidade do vinho ? diz Carlos Paviani, diretor-executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).
Beneficiadas pela combinação de solo arenoso e um microclima de inverno rigoroso, verão de dias quentes, noites frescas e poucas chuvas, o terroir da Serra do Sudeste trouxe surpresas agradáveis desde a primeira vindima, em 2004, quando os vitivinicultores pioneiros chegaram a obter vinhos com teor de álcool superior a 15%, o que à época levou até a comparações com as vinificações da famosa região do Vale do Napa, na Califórnia.
As experiências são exitosas tanto em variedades tradicionais, como carbernet sauvignon e chardonnay, quanto em castas novas no Estado, como a francesa arinarnoa e a portuguesa touriga nacional. A partir dos resultados das primeiras safras, até mesmo vinícolas gaúchas que não têm vinhedos na Serra do Sudeste correram para adquirir uvas de uma região agora redescoberta.
? Nós acertamos. Os últimos anos foram memoráveis, e esta safra vai ser excepcional ? entusiasma-se Juarez Valduga, diretor presidente da Casa Valduga, referindo-se ao verão seco até agora.
Apesar de Encruzilhada ser hoje a face mais visível e recente da vitivinicultura na Serra do Sudeste, outro município da região foi um dos pioneiros na Metade Sul. Em 1976, a extinta Companhia Vinícola Riograndense, então dona da marca Granja União, começou a formar em Pinheiro Machado o Vinhedos San Felicio, hoje da Terrasul, de Flores da Cunha, que ao lado da Almadén, em Santana do Livramento, na Campanha, tem as áreas mais antigas em produção no sul gaúcho. Ambas nasceram com o potencial revelado pelo zoneamento agroclimático para a cultura desenvolvido no início da década de 1970 pelo governo gaúcho.
Com o impulso que a atividade ganhou na região, no final de janeiro nove produtores de uvas finas ? sendo três vinícolas ? de Pinheiro Machado, Piratini e Pedras Altas se uniram para formar a Associação dos Vitivinicultores do Extremo Sul (Vitisul).
? O objetivo é buscar um produto com indicação geográfica ? adianta Rossano Lazzarotto, presidente da entidade.