Depois de enfrentar dias seguidos de chuva, que impediram o trabalho das colheitadeiras, o resultado foi plantas mais danificadas a cada dia. Alguns grãos germinam nas vagens, outros estão completamente estragados. O produtor rural Paulo Iuniseki plantou 430 hectares e colheu apenas cem hectares antes do início das chuvas.
? Eu devo ter uma perda de 60%, mas tenho lavoura para colher ainda, só colhi uns 30%. E esse tempo não firmou, não está dando pra fazer a colheita, então continuamos apreensivos, já temos perdas definidas, mas ainda podem vir perdas maiores. Isso também preocupa ? desabafa.
O maior problema é que não foram poucas as lavouras prejudicadas pelas chuvas. Pelo menos 60% das plantações do município foram atingidas, com isso a estimativa é de que a produção, que deveria chegar a 330 mil toneladas, pode não ultrapassar as 138 mil toneladas.
Este cálculo pode ser alterado, porém depende das condições climáticas na região durante esta semana. Com os produtores em alerta, qualquer aparição do sol é um convite para levar as máquinas para o campo, mas apesar da correria, reverter este quadro já não é mais possível. Esta vai ser a maior quebra da safra de soja na história de São Gabriel do Oeste.
? A única vez que se registrou perda real por questões climáticas na região de São Gabriel do Oeste foi essa. A nossa situação é de desânimo total. Tem muito agricultor que não está nem saindo de casa, nem quer mais ir ver o que sobrou no campo. O desespero é muito grande ? esclarece presidente do Sindicato Rural de São Gabriel do Oeste, Júlio Bortoloni.
A confirmação dos prejuízos preocupou o agricultor Cláudio Balzan. Ele ampliou os gastos com a lavoura de 2,6 mil hectares, investiu mais de R$ 2,8 milhões para elevar a produtividade da plantação para 65 sacas por hectare. Um investimento praticamente em vão.
?Você não chora porque é difícil, a situação é muito triste. Está muito complicado. Nunca a gente passou por uma situação desta ? conta.
Com a quebra confirmada, os prejuízos para a economia de São Gabriel do Oeste podem passar dos R$ 100 milhões. O montante equivale a duas vezes o orçamento anual do município.
Em outras regiões de Mato Grosso do Sul, os produtores também enfrentam situações semelhantes. A estimativa da Federação de Agricultura e Pecuária é de que a quebra no Estado possa chegar a 30%. Os prejuízos podem passar de R$ 1,5 bilhão.