Em visita a uma propriedade no interior do município de Água Comprida, a 50 quilômetros de Uberaba, o técnico agrícola Vagner Scalon constatou os estragos na lavoura. Ele confirma que não é uma situação isolada.
? Você vê que ela apodreceu toda no campo e esta situação está geralizada no Triângulo Mineiro. Uma lavoura dessa aqui, a pessoa começa a colher e ela vai dar 70%, 80% de perda e o armazém não quer receber. A previsão é chover mais, e cada dia que passa o prejuízo aumenta ? comenta.
Pegando como exemplo o município de Água Comprida, são 10 mil hectares de soja plantados. As perdas nas lavouras variam entre 30% e 70%. Na lavoura do produtor Pedro Navaes, a colheita terminou dois dias antes do início das chuvas, que resultou em uma média de 58 sacas por hectare com boa qualidade. Quando o tempo mudou, ainda restavam 130 hectares. A máquina está parada desde o dia 1º de março. Navaes chegou a colocar a colheitadeira para funcionar, mas jogou fora o que colheu. Ele está desanimado e calcula um prejuízo de R$ 300 mil.
? Aqui é mais ou menos 80% de grão ardido e avariado. Estou jogando fora. Isso aqui nem pra ração animal não serve mais ? diz Navaes.
O produtor fechou contrato antecipado e está devendo pelo menos mil sacas para a exportadora e vai ser multado.
? Depende do contrato, mas aqui vai dar 50% de multa. Vou tentar comprar soja de outros produtores, pedir emprestado pra tentar cumprir os contratos ? explica.
Em outra propriedade de Água Comprida, os talhões são separados. Na parte mais baixa, pela primeira vez em 10 anos, as plantas ficaram embaixo d’água. Basta uma trégua na chuva e o proprietário José Humberto Junior vai colhendo nas áreas mais altas. Ele tem mil hectares e reclama da falta de transparência na hora de entregar a produção. Ele sabe que a qualidade é baixa, mas os descontos variam de uma empresa para outra.
? Ontem mesmo a gente pegou uma carga fechada e levou na empresa. Ela classificou e deu 40% de ardido. Já perdi 30% no campo, chega aqui e perde mais 40%. Não tenho condições. Fui tentar entregar no vizinho. Na outra empresa, de 40% de ardido voltou pra 20% ? explica.
Junior acelera a colheita como pode. Na logística entre as áreas plantadas, o clima acabou com o planejamento.
? Começamos a colher aqui, depois passamos para lá. Colhemos um dia, no outro dia amanheceu chovendo lá. Vamos aproveitando cada minuto de trégua da chuva ? diz José Humberto Junior.