A exemplo do que ocorreu com os agricultores convencionais, os produtores orgânicos foram afetados também por dificuldades no escoamento e pela falta de energia, entre outros problemas. Porém, devido às práticas agroecológicas, que incluem não desmatar e cuidar dos rios e das matas ciliares, as propriedades foram menos afetadas pelas fortes enxurradas de janeiro e, consequentemente, perderam menos.
? Por mexer menos na natureza, por cuidar mais do meio ambiente, ter áreas de produção, além de uma produção variada. Eu acho que essa lição deve ser pensada nos municípios ? disse a diretora da SNA, Sylvia Wachsner.
O relatório foi divulgado pelo Fórum de Desenvolvimento Estratégico da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), em Teresópolis.
A Comissão da Produção Orgânica do Rio de Janeiro (CPOrg-RJ), ligada ao Ministério da Agricultura, levantou informações referentes ao período de janeiro até o dia 17 de fevereiro que mostram que a situação mais crítica foi enfrentada pelos produtores orgânicos no assentamento agrário Fazenda Alpina, em Teresópolis. No assentamento, 45 das 93 famílias perderam tudo, incluindo casas, benfeitorias e terras agricultáveis. No Sítio Solstício, o produtor rural Renato Agostini, que já fazia a comercialização de seus produtos no varejo, sofreu perdas de lavoura não só pelas chuvas, mas pela falta de energia que se seguiu à enxurrada. No distrito de Itaipava, em Petrópolis, a família do produtor rural Shigeharu Katsumoto perdeu toda a produção em 500 metros de estufas, mais mil metros quadrados de mudas de árvores frutíferas e hortaliças.
Em Nova Friburgo, foi registrada perda parcial do galpão de flores e frutas de produtores da localidade de Vargem Grande. Em São José do Rio Preto, uma fábrica de ração teve perda de maquinário e matéria prima, além de produto final. No município de Bom Jardim, produtores do Sítio das Quaresmeiras perderam toda a produção de goiabada e bananada orgânicas armazenada em geladeiras e câmaras frias.
A SNA apresentou propostas para que os municípios se recuperem economicamente e possam estar preparados para os eventos ambientais e esportivos de nível mundial, que ocorrerão no Rio de Janeiro já a partir deste ano.
? É preciso aprender com o problema e ver como os municípios ficam mais fortes, ajudando-os a pensar no futuro nos próximos seis a sete anos ? explica Sylvia.
Entre as propostas, a diretora da SNA destacou a continuidade das práticas agroecológicas, com menor interferência na natureza, utilizando menos agrotóxicos.
? É muito importante para a saúde dos produtores e do município. Menos pessoas doentes custam menos à saúde pública ? informou.
Outra iniciativa é ajudar os bancos de sementes e adubos verdes por meio dos programas de apoio do Ministério da Agricultura e das empresas nacional e estadual de pesquisa agrícola.
A diretora disse ainda que é preciso facilitar o acesso a câmaras frias para a conservação de produtos, sobretudo no verão, mediante o pagamento de um aluguel às prefeituras.
? A perda é menor e os produtos chegam vivos às feiras e ao varejo ? comentou.
A criação de pequenas indústrias de beneficiamento e a melhoria de embalagens foram outras sugestões apresentadas pela SNA em benefício dos produtores orgânicos da região serrana do Rio de Janeiro.