Dois cenários para o aumento da temperatura por conta do efeito estufa foram traçados por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no estudo Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira, que será divulgado nesta segunda, dia 11. Na melhor hipótese, até 2100 o acréscimo seria de 1,4°C a 3,8°C. Na pior, de 2°C a 5,4°C.
Se essas elevações das temperaturas se confirmarem, percorrer uma estrada com campos de milho de um lado e de soja do outro poderá ser mais difícil, segundo o estudo: no Brasil, a área propícia a essas culturas estaria entre as mais afetadas e poderia se reduzir em 41% e 17%, respectivamente, até 2070.
Hilton Silveira Pinto, da Unicamp, e um dos coordenadores da pesquisa diz que, por esse motivo, abre-se a possibilidade de plantar culturas de clima mais quente como a cana-de-açúcar. O problema pode estar logo ali: o acréscimo de 3°C na temperatura poderia resultar em perdas de R$ 7,4 bilhões na safra brasileira de grãos já em 2020 ? subindo para R$ 14 bilhões em 2070. Isso porque haverá necessidade maior de irrigação e, segundo Pinto, a água terá se tornado uma commodity a ser usada com parcimônia.
? A saída está na pesquisa, em adaptar culturas às novas condições ? diz.
O analista de mercado Argemiro Brum aposta na ciência para impedir que a situação se agrave. Lembra que pesquisas de melhoramento genético já produzem grãos mais resistentes à falta de chuva.
? Imaginar hoje que plantaremos cana-de-açúcar (no futuro) é fora de propósito ? afirma Brum.
Na opinião de Pinto, a principal lição do estudo, conduzido desde 2001, é a necessidade de desenvolver culturas mais tolerantes ao calor e à seca.