? Vou falar um pouco da crise no discurso. Sem criar crise, vou falar da crise. Não tem como ir à sede da ONU fazer um discurso e não falar um pouco da situação mundial ? avisou, ao avaliar que turbulência americana é mais grave do que parecia há seis meses.
De acordo com o presidente, se o governo dos EUA tivesse implementado antes o pacote de quase US$ 1 trilhão, possivelmente a situação não teria chegado a essa dimensão.
? O governo americano tomou as medidas adequadas na última sexta-feira, quando disponibilizou US$ 700 bilhões para comprar títulos podres das empresas com problemas. Se isso tivesse sido feito antes, talvez a crise não tivesse tomado a direção que tomou. O que é importante, e todos nós precisamos torcer, é para que a crise americana seja a menor possível. Se for muito grande, pelo peso da economia americana no mundo, ela vai gerar uma recessão em todos os países ? disse Lula, que desembarcou ontem nos EUA, onde cumpre agenda até amanhã.
No discurso de abertura da ONU, tradicionalmente reservado ao Brasil, Lula dirá ser preciso que os governos não deixem as soluções apenas nas mãos das instituições privadas:
? É preciso que agora os bancos centrais comecem a tomar medidas para regular e controlar o sistema financeiro internacional, para que a especulação e a jogatina não sejam a prioridade de determinados setores.
Medidas serão avaliadas entre primeiros-ministros
Na noite desta quarta, dia 24, Lula participará de reunião com os primeiros-ministros britânico, Gordon Brown, indiano, Manmohan Singh, chinês, Wen Jiabao, e espanhol, José Luis Zapatero, além do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn. No encontro, afirmou Lula, “alguma medida” será avaliada.
Depois de discursar no lançamento da campanha da Embratur “Brasil Sensacional”, cujo objetivo é aumentar o fluxo de turistas estrangeiros para o país, Lula afirmou que o Brasil “teria menos problemas” por causa da diversificação das exportações.
Pela crença na “ajuda de Deus” e pelas conversas com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, o presidente da República disse acreditar que “a crise não vai nos atingir”. Revelou que está sempre em contato com a equipe econômica, fazendo uma análise “com olhos de lupa todo dia”.
? Nós demoramos muito para chegar onde nós estamos. A gente não pode agora jogar isso fora e, por isso, temos que trabalhar com muito cuidado.
Durante palestra realizada no fórum de debates político e empresarial realizado ontem em São Paulo pela Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB-SP), o presidente do BC, Henrique Meirelles, também quis tranqüilizar a platéia em relação ao cenário de crédito brasileiro ante o dos EUA, principal gatilho da atual crise financeira global.
Conforme Meirelles, apesar de o crédito ter “crescido bastante” no Brasil nos últimos anos, o que, segundo ele, é positivo, a taxa de empréstimos passou de 22% do PIB no início do atual governo para 37% atualmente.
? Estamos muito longe de onde chegaram os EUA no nível de endividamento da sociedade ? comparou Meirelles.