Governo da China nega ter ocultado casos de adulteração de leite

Ministério de Assuntos Exteriores disse que autoridades foram informadas no último dia 9O Ministério de Assuntos Exteriores da China negou nesta terça, dia 23, que o caso de adulteração no leite tenha sido ocultado durante a realização dos Jogos Olímpicos de Pequim. O órgão defendeu a gestão governamental no escândalo que afetou 53 mil crianças.

– Na manhã de 9 de setembro, a Administração Estatal de Supervisão, Inspeção e Quarentena (AQSIQ, na sigla em inglês) foi informada sobre o problema do leite Sanlu pela embaixada da Nova Zelândia – disse hoje em coletiva de imprensa a porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores chinês Jiang Yu.

No entanto, o Governo da Nova Zelândia e a Fonterra, empresa dona de 43% da Sanlu, asseguraram na semana passada que em agosto já haviam entrado em contato com autoridades de Shijiazhuang, onde fica a sede da Sanlu, para denunciar um estranho aumento do nível de melamina no leite em pó para bebês. Segundo as fontes neozelandesas, a presença deste tóxico já havia causado a morte de pelo menos dois bebês em maio e julho.

Jiang destacou na entrevista coletiva de hoje que a AQSIQ “levou muito a sério” a notificação neozelandesa, “e na tarde do mesmo dia conseguiu os primeiros resultados da investigação e foi iniciado o trabalho pertinente”.

Ontem, um diretor do jornal “Southern Weekend” afirmou que no final de julho o veículo foi informado sobre a hospitalização de 20 crianças com problemas renais na província de Hubei, no sul da China.

– Pelas razões que todos sabemos, não pudemos investigar o caso nesse momento porque a harmonia generalizada imperava – assegurou o jornalista Fu Jianfeng se referindo ao começo dos Jogos Olímpicos nos dias posteriores.

As lacunas que continuam no escândalo levaram à Organização Mundial da Saúde (OMS) a pedir que se averigúe se houve encobrimento dos fatos, levando em conta que a China tem antecedentes similares em alertas sanitários como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla em inglês) ou a gripe aviária.

A China exportou leite da Sanlu para Mianmar (antiga Birmânia), Bangladesh, Gabão, Burundi e Iêmen, países com os quais, segundo Jiang, Pequim “já se pôs em contato com as autoridades sanitárias para conduzir o problema de maneira adequada”.

Colômbia, Japão e Taiwan, dentre outros países, proibiram a importação de produtos lácteos da China devido ao problema, enquanto a União Européia (UE), onde as importações no setor já estavam proibidas anteriormente, pediu aos países comunitários que reforcem seus controles a todos os produtos procedentes do país asiático.

O chefe da delegação da Comissão Européia em Pequim, Serge Abou, destacou hoje que além dessa precaução devem ser averiguados produtos exportados para a UE pela China que possam conter leite em seus ingredientes, tais como biscoitos ou doces.

– Temos que nos preocupar com a saúde de nossos cidadãos e reforçar as precauções para assegurar que os produtos exportados para a Europa estejam livres de melamina – disse Abou.

A maioria das marcas envolvidas (Mengniu, Yili, Guangming e Sanlu, dentre outras) não pode vender para a UE. Quanto às informações em Hong Kong que falaram de possíveis níveis de melamina em produtos da marca suíça Nestlé, o chefe da delegação assegurou que se trata de um assunto sem importância.

– Segundo entendi, a quantidade de melamina envolvida é infinitamente menor que a achada em outras companhias – destacou Abou.

Devido ao escândalo, o diretor-geral de Saúde e Proteção ao Consumidor da Comissão Européia, Robert Madelin, está na China para conhecer diretamente o caso e se reunir com autoridades do país.

Abou ressaltou que a intenção da UE não é repreender a China, mas “cooperar e oferecer” solidariedade, pois não se tem interesse em “manter uma situação na qual um produto está fora de controle”.