ANÁLISE

Chuvas no RS deixam mercado brasileiro de trigo em alerta

A colheita da safra 2022/23 de trigo está em 17,9% da área estimada para a temporada 2022/23 nos sete principais estados produtores do Brasil

trigo
Foto: Freepik

Os negócios com trigo no Brasil seguem pontuais. Segundo o analista de Safras & Mercado, Elcio Bento, os trabalhos de colheita seguem com um bom ritmo e já se encaminham para a reta final nas regiões norte e oeste do estado.

“Agentes relatam que a produtividade das lavouras e a qualidade dos grãos são boas. A preocupação em relação ao clima fica por conta das lavouras que se colhem mais tarde, na metade sul do estado. O sentimento que se observa entre os agentes é de que na atual temporada, ao contrário da anterior, o Paraná poderá vender para o Rio Grande do Sul. Essa percepção tem como base os mapas climáticos que sinalizam para uma safra gaúcha com alto índice de pluviosidade”, observou o analista.

As negociações no Rio Grande do Sul também estão travadas.

“Ainda não se tem boletins que possam quantificar perdas. Porém, sabe-se que as chuvas volumosas causaram danos em lavouras nas fases de floração e de início da formação dos grãos, principalmente devido ao acamamento em certas áreas e à queda de flores das plantas. A extensão dos danos e o possível impacto na produtividade ainda não puderam ser avaliados com precisão, sendo necessária a melhoria das condições ambientais para aguardar a reação das lavouras após o fenômeno climático, o que permitirá a realização de vistorias de avaliação”, disse.

Conab

A colheita da safra 2022/23 de trigo está em 17,9% da área estimada para a temporada 2022/23 nos sete principais estados produtores do Brasil (Goiás, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul que representam 99,9% do total), conforme levantamento semanal da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com dados recolhidos até 10 de setembro. Na semana anterior, a ceifa estava em 11,7%. Em igual período do ano passado, o número era de 11,8%.

Paraná

O Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, informou, em seu relatório semanal, que a colheita atingiu 35% da área cultivada de 1,41 milhão de hectares. A área deve ser 14% maior do que em 2022, quando cultivou 1,238 milhão de hectares.

Segundo o Deral, 73% das lavouras estão em boas condições, 21% em situação média e 6% em situação ruim, com 6% em crescimento vegetativo, 10% em floração, 35% em frutificação e 49% em maturação. No dia 4 de setembro a colheita atingia 26% da área, com 72% das lavouras estavam em boas condições, 21% em situação média e 6% em situação ruim, divididas entre as fases de crescimento vegetativo (10%), floração (12%), frutificação (31%) e maturação (47%).

Rio Grande do Sul

A cultura do trigo no Rio Grande do Sul encontra-se predominantemente em fases reprodutivas, abrangendo a de floração (41%) e a de enchimento de grãos (34%). A fase de desenvolvimento vegetativo representa atualmente 19%, e a de maturação compreende 6% das lavouras, localizadas no Oeste do Estado.

A área cultivada na safra 2023 está estimada em 1.505.704 hectares, e a produtividade prevista é de 3.021 kg/ha.

O período de tempo úmido contínuo e alta nebulosidade não foi favorável para as lavouras. As condições climáticas atuais são propícias ao desenvolvimento de doenças, especialmente nas espigas e espiguetas.

Nas lavouras que estão no estágio final de enchimento de grãos e início da maturação, os sintomas de doenças nas espigas, como giberela e brusone, têm aumentado, causando atrofia ou morte dos órgãos reprodutivos e interrompendo o crescimento dos grãos. Há risco elevado de perdas na qualidade dos grãos em maturação, o que pode impedir seu aproveitamento na produção de farinha, restando apenas a opção de venda para ração, cujos preços são significativamente mais baixos.

Trigo na Argentina

A ocorrência de chuvas na Argentina proporcionou a melhora nas condições das lavouras de trigo. No entanto, as precipitações geraram um aumento na aparição de focos de doenças foliares, o que fez com que os produtores aumentassem a aplicação de fungicidas. Áreas que não receberam as chuvas, e que enfrentam altas temperaturas, têm o potencial de rendimento comprometido.

A área é estimada em 5,9 milhões de hectares.

As lavouras se dividem entre excelentes/boas (24%), normais (55%) e regulares/ruins (21%). Na semana passada, eram 18% entre excelentes e boas. Um ano atrás, 15%. Atualmente, são 31% em déficit hídrico, contra 30% na semana passada. Um ano atrás, eram 46%.