Reduzir o teor de umidade da soja de 14% para 13% pode trazer uma perda de, aproximadamente, 1,8 milhão de toneladas do grão, o equivalente a 30 navios Panamax. Tendo como base o preço médio de 120 reais a saca, esse déficit representaria um prejuízo de cerca de 3,6 bilhões de reais.
A conta leva em consideração a safra 2022/23 que, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foi de 154,6 milhões de toneladas. Isso porque a cada 1% de redução de água na massa da oleaginosa, se perde 1,15% de seu peso.
A questão vem à tona após o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) defender, em audiência na Secretaria de Defesa Agropecuária, a revisão do Regulamento Técnico da Soja.
O documento, responsável por definir os critérios de classificação da soja nos requisitos de identidade e qualidade, amostragem, modo de apresentação e marcação ou rotulagem do grão está em negociação há cerca de dois anos.
Entidades como a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) e a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) já se manifestaram contrárias à mudança.
Segundo ele, a Confederação reconhece que a ciência já mostrou as vantagens de reduzir o teor de umidade da soja para 13%. “Pesquisas mostram que a qualidade de nosso grão armazenado com uma umidade menor pode ser melhor porque, assim, evita-se ataque de fungos e bactérias”.
Arioli conta que outro ganho obtido com a medida é quanto à logística. “Teoricamente, enviar o grão com menos umidade oferece uma redução no custo do frete a nível Brasil”. No entanto, ele ressalta que esses benefícios também precisa atingir o produtor rural.
“Produtor é o mais penalizado”
O presidente da Comissão da CNA ressalta que com a atual lógica de mercado, o sojicultor seria o mais penalizado.
“O produtor que colhe e entrega a produção diretamente a uma trading, que será a responsável pela secagem, já sofreria o desconto na entrada do grão. É isso o que estamos querendo discutir com todos os elos, porque se a indústria e os armazéns vão se beneficiar por ter uma qualidade melhor no final do armazenamento e o frete ficará mais barato, o produtor precisa ter uma garantia de que não terá prejuízo”.
Assim, o pedido é que haja uma compensação no preço da soja que for entregue com umidade menor do que 14%. “Essa é a nossa posição na CNA. Precisamos de um prazo de seis meses para discutirmos esse tema com a cadeia antes da publicação do Regulamento Técnico da Soja, mas o Ministério disse, por ora, que não podia deixar a questão em suspenso”.
Mesmo assim, Arioli não acredita que o Mapa publicará o texto antes de permitir as devidas discussões. “As pessoas que estavam na audiência pública que realizamos no Mapa nos disseram que não têm o poder de deixar a revisão do padrão em aberto por mais seis meses, mas que o ministro [Carlos Fávaro] teria”.
O ministro Carlos Fávaro regressou ao Brasil de viagem internacional nesta semana.