Entre novembro e dezembro deste ano, houve aumento de 100% nos casos de ferrugem asiática – a pior doença da cultura da soja. Dados do Consórcio Antiferrugem mostram 32 ocorrências registradas até esta quinta-feira (7).
O crescimento nos reportes entre um mês e outro pode ser justificado pela ocorrência do El Niño, que vem se intensificando ao longo dos últimos meses.
O fenômeno climático tem sido caracterizado pelas fortes ondas de calor, variações de temperatura, inverno mais brando e distinção na ocorrência das chuvas: maior frequência e intensidade na região Sul e irregularidade no Centro-Oeste e Nordeste.
“Nas últimas safras estávamos sob influência do La Niña e, por isso, o comportamento de doenças foliares foi diferente, principalmente em relação à ferrugem asiática”, destaca a responsável pelo Desenvolvimento Técnico de Mercado Sênior da Basf e doutora em Ciência do Solo, Mariana Dossin.
De acordo com ela, nesse cenário sob nova perspectiva climática, em que há atraso dos plantios tanto no Sul quanto no Centro-Oeste e Norte, haverá uma das maiores janelas de semeadura da sojicultura, o que possibilita maiores casos da doença.
“Os agricultores devem redobrar os cuidados, principalmente nas fases iniciais do cultivo, pensando na prevenção e proteção foliar”, relata.
Soja é hospedeira
Mariana explica que as doenças fúngicas se propagam facilmente nas lavouras de soja, principalmente pela sucessão de cultivos e pelo clima tropical, sendo a soja hospedeira de grande parte de fungos que sobrevivem no solo.
“A ampla janela de semeadura é um alerta, pois teremos uma safra com diferentes estádios fenológicos da soja ao mesmo tempo e variações climáticas intensas que podem dificultar, inclusive, os tratos culturais”, diz.
Segundo a profissional, a variação climática da safra 2023/24 acende um alerta para a agricultura nacional.
“As condições que estamos vendo na Região Sul, por exemplo, favorecem o estabelecimento e desenvolvimento de doenças foliares como mancha-alvo, cercóspora e a antecipação e agressividade da ferrugem asiática. Já na região Centro-Oeste, a oscilação de baixa pluviosidade e altas temperaturas tem influenciado em perdas de estande, áreas de replantio e ainda instabilidade nos tratos culturais devido ao estresse hídrico, que trazem consigo riscos de fitotoxicidez”.
Ponto de atenção da safra 23/24
Doenças foliares oportunistas, como cercóspora e septoriose, são favorecidas por essas condições extremas, bem como antracnose e a mancha-alvo, que continuam sendo uma grande preocupação.
“Um grande ponto de atenção dessa safra é, sem dúvidas, a mudança da dinâmica de algumas doenças, trazendo um grande alerta para ferrugem asiática nesse ano devido à ampla janela de plantio, podendo afetar potencialmente as regiões do cerrado brasileiro” alerta Mariana.
Nesse sentido, o manejo preventivo de fungicidas se torna essencial para o sucesso do cultivo. As aplicações iniciais bem-feitas são a chave para prevenir a evolução das doenças, e consequentemente, as perdas que, no caso da ferrugem, podem variar de 10 a 90%.
A especialista lembra que a ferrugem reflete diretamente em prejuízos à formação de grãos e ao enchimento de vagens, com redução do peso final dos grãos, comprometendo o resultado do cultivo.