PLANEJAMENTO

Momento é de vender a safra de soja, mas com estratégias de hedge, diz especialista

Grão cotado a 12 dólares o bushel mesmo com expectativa de safra cheia nos EUA é oportunidade para os produtores obterem bons retornos, afirma especialista

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Foto: Daniel Popov/ Canal Rural

A gradual recuperação dos preços da soja ao longo dos últimos meses é a oportunidade perfeita para os produtores alavancarem seus negócios, considera o especialista em gestão do agronegócio e gerente de Barter da Adama, André Morselli.

“Mesmo com a safra norte-americana de soja se desenvolvendo dentro da normalidade e perspectivas de aumento na produção para cerca de 120 milhões de toneladas, os preços da oleaginosa seguem em patamares elevados próximos dos US$ 12 o bushel. Esse cenário representa uma excelente oportunidade para os produtores brasileiros obterem retornos satisfatórios ao comercializarem parte de seus estoques”, destaca.

Produtor precisa ser empresário

No entanto, Morselli ressalta que os produtores precisam exercer uma postura mais empresarial para os seus negócios, adotando ferramentas de gestão de comercialização diversificada e mais assertiva.

“Atualmente, há diversas possibilidades de hedge disponíveis que podem ajudar na proteção das vendas por parte do produtor. Dentre as estratégias recomendadas para o atual momento, destacam-se a venda imediata de parte da produção, garantindo preços mais interessantes oferecidos pelo mercado e a contratação de estruturas de derivativos (opções de ‘call’) que permitam a participação nas eventuais altas que o mercado possa oferecer durante o período de exercício da ‘opção'”, considera.

Segundo ele, essas estruturas aliadas às operações de Barter podem ser uma ferramenta interessante para o produtor travar os custos de insumos para a próxima safra utilizando a produção disponível e aproveitando uma boa ‘relação de troca’.

“Essas medidas permitirão ainda aos produtores protegerem-se contra eventuais baixas nos preços, mantendo a possibilidade de participação nas altas, além de eliminar os custos de ‘carrego’ da soja mantida depositada”, afirma.

Sem improvisos

Morselli acredita que com uma gestão profissionalizada, os produtores estarão mais bem preparados para extrair o máximo de rentabilidade de seus negócios, mesmo em meio às flutuações de mercado.

“Não há mais espaço para improvisos no campo, de acordo com o especialista. Adotar uma postura inerte e simplesmente ‘apostar todas as fichas’ em um preço alvo desvinculado dos fundamentos de mercado, pode acabar gerando um risco importante para o negócio”

Como exemplo, ele lembra o ocorrido a muitos produtores que tiveram que vender parte de sua produção em 2023/24 com preços já em baixa, comprometendo a rentabilidade final.

Assim, o especialista alerta que não ter uma estruturação de comercialização bem elaborada e postergar demais a decisão de venda pode ser um risco. Isso porque as lições recentes reforçam a necessidade de os produtores repensarem suas estratégias com uma visão mais empresarial.

“O velho paradigma do lavoureiro preocupado apenas com o ciclo plantio, colheita, armazenagem e venda não mais se sustenta. Hoje todas as etapas do negócio devem ser planejadas antecipadamente com estratégias bem definidas de acordo com os fundamentos de mercado”, aponta.

Melhora na rentabilidade da soja

Estima-se que a produção brasileira de soja para 2023/24 fique próxima de 150 milhões de toneladas. “Com a adoção das melhores práticas de gestão e escolha criteriosa dos melhores momentos para comercialização, os produtores estarão mais bem posicionados para capitalizarem ao máximo os bons preços atuais, alavancados por CBOT mais valorizado, prêmios fortalecidos pelo ritmo bom das exportações e câmbio desvalorizado para garantirem uma melhora na rentabilidade desta temporada”, diz Morselli.

Segundo ele, é fundamental planejar criteriosamente as operações, prevendo gastos, cronogramas e estratégias comerciais.

Diante de um cenário que aponta para potencial recuo dos preços em Chicago nos próximos meses, ainda que partindo dos atuais patamares elevados na casa dos US$ 12/bushel, a orientação dos especialistas é aproveitar a boa oportunidade oferecida pelo mercado atual.