Após as enchentes no Rio Grande do Sul, os produtores rurais enfrentam grandes desafios com a perda de solo fértil. A destruição foi significativa, principalmente nas áreas próximas aos rios, como constatou Fernando Malmann, agricultor em Estrela, no Vale do Taquari.
“A destruição foi grande. Esta era a melhor lavoura que eu tinha e virou sei lá o quê. A matéria orgânica, a gordura do solo, se foi. Quanto tempo eu vou levar para reconstruir este solo?”, lamenta Malmann, enquanto aponta uma área devastada pela força das águas.
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O solo é composto por cinco camadas, sendo a superior a mais fértil, rica em matéria orgânica. As enchentes destruíram essa camada, causando sérios prejuízos. Em alguns casos, a erosão foi tão severa que apenas a rocha permanece, o que leva milhões de anos para se recompor naturalmente. No Rio Grande do Sul, 405 propriedades sofreram perdas severas em fertilidade.
Segundo a Emater-RS, quase 3 milhões de hectares de solo foram perdidos no estado. A recuperação depende de investimentos significativos, muitas vezes inacessíveis aos produtores.
Fernando Malmann, que teve 40% de sua área afetada, conta com a ajuda da entidade para analisar o solo e determinar os próximos passos. “A primeira coisa é retirar todos os detritos. Depois, o solo terá que ser nivelado com máquinas pesadas, incorporar corretivos e fertilizantes, e fazer uma semeadura com material de cobertura para proteger o solo”, aponta Álvaro Trierweiler, engenheiro agrônomo da Emater.
A recuperação do solo pode variar de caso a caso. Em alguns locais, a produção pode ser retomada em uma safra, mas em outros, pode levar de 4 a 10 anos. “Essa camada é recuperável, mas requer investimentos em insumos como corretivos de pH, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e outros nutrientes. Isso tem um custo alto, mas é possível recuperar”, afirma José Denardin, pesquisador da Embrapa Trigo.
Os produtores precisarão de ajuda para limpar e descompactar o solo, problema comum em regiões afetadas por enxurradas. “Temos que trabalhar muito para recomeçar o plantio. Do jeito que está, não dá para plantar nada. O presidente e o governador já vieram (aqui), mas até agora (o projeto de recuperação) só está no papel. Estamos esperando uma solução, porque o município sozinho não tem condições de resolver”, ressalta Paulo Sheeran, secretário da Agricultura de Estrela.
Apesar das dificuldades, Fernando Malmann continua otimista: “Vamos investir em adubação e procurar recursos. Vamos continuar produzindo, porque esta área é de boa fertilidade.”