GIGANTE ASIÁTICO

China prepara estímulos econômicos que podem beneficiar Brasil, mas efeito pode ser limitado

Mercado financeiro aguarda reunião do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo chinês, que ocorre esta semana

China
Foto: Pixabay

Os próximos dias serão decisivos para a economia mundial. De 4 a 8 de novembro, o Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo da China se reúne para anunciar uma série de estímulos para impulsionar o crescimento da segunda maior economia do planeta. 

De acordo com a agência de notícias estatal chinesa Xinhua, os estímulos fiscais deverão ser conhecidos apenas durante o evento, que é muito aguardado pelos investidores, mas informou que diversos projetos de lei e relatórios de agências governamentais serão revisados.

Para o professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) Paulo Dutra Constantin, entender a hierarquia política chinesa é essencial para captar a dimensão global dessas decisões.

“O Partido Comunista Chinês é o centro do poder, enquanto o Congresso Nacional do Povo define as políticas econômicas e sociais”, afirma.

Efeitos na economia global: o que muda?

Constantin enfatiza que, sendo a China a segunda maior economia mundial, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, cada medida aprovada pelo CNP afeta mercados ao redor do mundo. “A reforma econômica de 1978, por exemplo, alavancou a economia a taxas superiores a 9% ao ano, promovendo um boom de commodities no início dos anos 2000”.

Em setembro, o Banco Central chinês deu início a uma série de estímulos, com uma injeção de liquidez de 1 trilhão de yuans (o equivalente a mais de R$ 800 bilhões) e cortes nas taxas de juros. As medidas de apoio monetário foram as mais agressivas desde a pandemia da Covid-19. Segundo o economista, embora esses estímulos forneçam fôlego temporário, não são suficientes para sustentar um crescimento acelerado no longo prazo. 

“A China já opera próxima da sua capacidade máxima de produção e enfrenta limitações naturais de expansão. Medidas adicionais, como emissão de títulos e subsídios, podem aumentar a demanda agregada, mas o efeito será passageiro e pode resultar em inflação. Em médio prazo, a economia pode entrar em um ciclo de estagnação e aumento de preços”, prevê Constantin.

Impactos para o Brasil e o agro

A reunião do Congresso chinês é um evento de impacto global, e as deliberações da próxima semana podem determinar não apenas o ritmo de crescimento econômico na China, mas também o cenário para os principais parceiros comerciais do país asiático, incluindo o Brasil. 

Constantin avalia que, no curto prazo, os incentivos fiscais podem elevar a demanda por commodities, beneficiando a economia brasileira. Ele alerta, porém, que “com o aumento da inflação na China, medidas restritivas serão aplicadas, reduzindo o consumo, principalmente de minerais”.

As commodities agrícolas, por sua vez, deverão ser menos afetadas por serem essenciais à alimentação.

Para o professor da Faap, o ritmo de crescimento da China deve desacelerar naturalmente, devido à base de comparação que aumenta ano a ano, além das limitações tecnológicas para ganhos de produtividade.

“Essa desaceleração é inevitável. O Brasil precisa diversificar seus parceiros comerciais e investir em infraestrutura e produtividade para reduzir a dependência chinesa, criando uma base econômica mais equilibrada”, conclui.