Duas novas cultivares de maracujás silvestres para uso como porta-enxerto desenvolvidas pela Embrapa, em parceria com a Coopernova, estão trazendo de volta a possibilidade de produção do maracujá-azedo em Mato Grosso.
Os materiais BRS Terra Nova (BRS TN) e BRS Terra Boa (BRS TB) são resistentes à fusariose, doença que dizimou os maracujazeiros no estado. Selecionadas a partir de espécies silvestres, elas servem como porta-enxerto para cultivares comerciais de maracujá-azedo.
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Já validadas para o estado de Mato Grosso, essas cultivares foram apresentadas nesta semana em Terra Nova do Norte (MT). Outras duas cultivares, também resistentes à doença têm apresentação prevista para os próximos meses: a BRSRJ MD, validada no Rio de Janeiro em condições de Mata Atlântica, e a UFERSA BRSRM 153, validada no Rio Grande do Norte e Bahia em condições do Semiárido e Cerrado.
As novas cultivares são das espécies Passiflora nitida Kunth (BRS TN) e Passiflora alata Curtis (BRS TB). Elas foram desenvolvidas e validadas na região norte de Mato Grosso. Materiais selecionados de diferentes espécies e híbridos interespecíficos foram testados em áreas com problemas de fusariose de produtores rurais associados à Coopernova a partir do ano de 2008.
As cultivares BRS TN e BRS TB foram as que melhor se adaptavam à região, apresentavam compatibilidade com cultivares de maracujá-azedo Passiflora edulis, mantinham-se produtivas e, acima de tudo, não apresentavam sintomas ou mortalidade por fusariose.
A ação da fusariose no maracujá
Os fungos Fusarium oxysporum f. sp. passiflorae e Fusarium solani causam, respectivamente, o entupimento do sistema vascular e a podridão das raízes, levando à morte prematura das plantas. Esses fungos estão presentes no solo e aproveitam de lesões nas raízes para infectar a planta. Com o tempo ocorre o apodrecimento das raízes e a murcha das folhas, levando o maracujazeiro à morte. O controle é difícil, uma vez que não existem alternativas químicas nem outras estratégias eficazes para o manejo da doença. Além disso, o fungo pode sobreviver por muitos anos no solo, mesmo na ausência de plantas hospedeiras.
Ações de pesquisa começaram há 26 anos
As pesquisas que buscam desenvolver tecnologias que contribuam com o manejo dessas doenças causadas por Fusarium começaram há 26 anos, na Embrapa Cerrados (DF). Segundo Fábio Faleiro, líder do Programa de Melhoramento Genético dos Maracujás da Embrapa (PMGM), resolver o problema da fusariose sempre foi uma importante demanda dos produtores de maracujá.
“Muitos produtores desistem do maracujá por causa da fusariose. Por isso, a apresentação das primeiras cultivares de maracujás silvestres, para uso como porta-enxerto, desenvolvidas pelo PMGM representa um marco importante para a cultura no país”, afirma Faleiro, que também atua como chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados. Ele ressalta que os novos materiais foram validados em condições comerciais e registrados no Ministério da Agricultura (Mapa).
Os primeiros experimentos foram estabelecidos em 1998 pelo pesquisador Nilton Tadeu Vilela Junqueira e envolviam a identificação e o uso de espécies silvestres e híbridos resistentes à fusariose a serem utilizadas como porta-enxertos de maracujazeiro azedo. Com o início do PMGM, foram realizados cruzamentos, seleção e recombinação de genótipos promissoras.
Uma rede de parcerias foi estabelecida para a realização de testes de compatibilidade com o maracujazeiro-azedo comercial (Passiflora edulis L.) para a otimização dos métodos de produção de mudas enxertadas; realização de bioensaios e validação em áreas comerciais com histórico de ocorrência de fusariose. O trabalho ainda envolveu o estabelecimento da logística de produção de sementes e mudas das cultivares desenvolvidas. Essas ações foram realizadas durante as cinco fases do programa.