Durante uma edição do programa É de Casa, na Rede Globo, o nome da castanha gerou um debate que repercutiu nas redes sociais. O ator manauara Adanilo, ao preparar uma tradicional tapioca caboquinha, prato típico da região, referiu-se ao ingrediente como “castanha-da-amazônia”. A apresentadora Talitha Morete, por sua vez, mencionou que, no Sudeste, ela é conhecida como “castanha-do-pará”. A discussão se intensificou com a participação de internautas e figuras públicas, como a ex-BBB paraense Alane Dias, que defendeu a denominação “castanha-do-pará”. Mas, afinal, quem está certo nessa história?
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Um artigo publicado por três pesquisadoras da Embrapa ajuda a entender melhor o porquê de tantas deminações. Patricia da Costa, da Embrapa Meio Ambiente, Lúcia Helena de Oliveira Wadt, da Embrapa Rondônia, e Kátia Emídio da Silva, da Embrapa Amazônia Ocidental afirmam que o fruto da castanheira (Bertholletia excelsa Bonpl.) carrega uma diversidade de nomes que reflete questões históricas, culturais e econômicas. Portanto, não existe um termo “correto”.
No entanto, no mercado internacional e em normativas comerciais, como o decreto federal nº 51.209/1961, prevalece o nome “castanha-do-brasil” – alinhado ao termo inglês Brazil nut.
Historicamente, a denominação “castanha-do-pará” remonta ao período colonial, quando o porto de Belém, no Pará, era o principal centro de exportação do produto. Já a adoção de “castanha-do-brasil” na década de 1960 buscou padronizar a nomenclatura para reforçar a origem brasileira e facilitar a comercialização no exterior.
Por outro lado, o termo “castanha-da-amazônia” vem sendo defendido por pesquisadores e produtores para destacar sua ampla ocorrência na Amazônia brasileira e em países vizinhos como Bolívia, Peru e Colômbia. Segundo a pesquisadora Patricia da Costa, o estado do Amazonas lidera a produção nacional, mas desde 1998 a Bolívia superou o Brasil como maior exportador do produto.
A pesquisadora Kátia Emídio, da Embrapa Amazônia Ocidental, argumenta que o nome “castanha-da-amazônia” reflete melhor a origem e abrangência do fruto. Anteriormente, já houve iniciativas de alteração e padronização do nome “castanha-da-amazônia”. Durante a Terceira Convenção Mundial de Frutos Secos comercial, promovida em Manaus, em 1992, com a participação de mais de 300 empresários, convencionou-se adotar o nome que reforça a origem amazônica do produto. No entanto, a força do nome “castanha-do-brasil” no mercado internacional impediu a mudança de se consolidar.
Iniciativas para adotar essa denominação ganharam força em eventos como a Convenção Mundial de Frutos Secos, em 1992, e no projeto de lei nº 913/2024, apresentado na Assembleia Legislativa do Amazonas.
A pesquisadora Lúcia Wadt da Embrapa Rondônia (Porto Velho, RO), em parceria com o Observatório da Castanha-da-Amazônia (OCA) e com o apoio do projeto NewCast – Novas soluções tecnológicas e ferramentas para agregação de valor à cadeia produtiva da castanha-da-amazônia, está conduzindo uma revisão das normativas relacionadas à nomenclatura e aos padrões de qualidade da castanha.
Em consulta recente com agentes da cadeia produtiva, o nome “castanha-do-brasil” foi o mais votado para a padronização comercial. “Essa discussão foi difícil e complexa porque existe um sentimento e uma percepção de que ‘castanha-da-amazônia’ é o nome mais inclusivo. No entanto, quando se analisa mundialmente a identidade da nossa castanha, o nome ‘castanha-do-brasil’ se destaca por estar consolidado internacionalmente como Brazil nut. Há um receio de que a mudança para ‘castanha-da-amazônia’ – que no inglês seria Amazon nut – possa gerar confusão entre os consumidores. De fato, essa questão permanece sem resolução”, afirma Lúcia Wadt.
Independentemente da nomenclatura, a castanha produzida na Amazônia é um patrimônio da sociobiodiversidade. Além de ser uma importante fonte de renda para comunidades amazônicas, ela carrega significados culturais, históricos e econômicos. E é isso que realmente importa, seja lá o nome pelo qual a castanha for chamada.