? Durante as últimas semanas, nossa atenção se fixou no tamanho dos pacotes financeiros. Devemos ver além do resgate financeiro e (pensar) em um resgate humano ? disse Zoellick em entrevista coletiva anterior à assembléia anual do banco e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O ex-representante de Comércio exterior americano alertou sobre possíveis “emergências bancárias” no mundo em desenvolvimento e crise nas balanças de pagamentos.
? A deterioração nas condições financeiras, combinada com um endurecimento monetário, provocará a quebra de empresas e, possivelmente, emergências bancárias. Alguns países sofrerão crise nas balanças de pagamentos ? previu, evitando citar nações ou regiões concretas durante seu discurso.
Ele afirmou que os países em desenvolvimento, já debilitados pelos elevados preços dos alimentos e da gasolina, enfrentam agora um “golpe triplo” perante a crise financeira global originada nos Estados Unidos, que se intensificou em meados de setembro.
Lembrou ainda que a gravidade da crise levou o BM a cortar em 2,6 pontos percentuais as previsões de crescimento para o mundo em desenvolvimento para 2009. O banco tinha previsto em abril passado que as nações em desenvolvimento cresceriam 6,6% em 2009, mas agora diz que a taxa se situará em torno de 4%.
? É uma taxa de crescimento respeitável, mas a desaceleração será tão significativa que deve ser sentida como uma recessão ? afirmou Zoellick, para quem em muitos países a taxa de crescimento será muito inferior à média.
Durante seu discurso, ele também criticou os países mais ricos por não cumprirem com seus compromissos de ajuda aos pobres. Mencionou que o G7 ? as sete nações mais industrializadas do mundo, que se reunirá nesta sexta, em Washington, está “muito atrasado” em sua promessa de duplicar sua ajuda à África para o ano 2010. O G7 assumiu esse compromisso durante a cúpula de líderes de Gleneagles (Escócia), em meados de 2005.
Zoellick pediu aos países europeus que apóiem a proposta do presidente da Comissão Européia (CE, órgão executivo da União Européia), José Manuel Durão Barroso, de desembolsar 1 bilhão de euros de ajuda para as nações mais castigadas pelos elevados preços dos alimentos.
Ele anunciou que o BM destinará US$ 25 milhões adicionais ao Haiti para ajudar o país a enfrentar o impacto devastador dos furacões “Gustav” e “Ike”, e das tempestades “Fay” e “Hanna”. Segundo Zoellick, “não se pode pedir aos pobres que paguem o preço mais alto”.
O presidente mencionou, nesse sentido, que a atual crise poderia aumentar este ano o número de pessoas desnutridas em 44 milhões de indivíduos, o que colocaria o total próximo a um bilhão. De acordo com ele, “para as crianças (desnutridas), a situação representa uma potencial perda”.
Para Zoellick, os ministros de Finanças e governadores dos bancos centrais do G7 apostarão por “ações coordenadas” para dar uma resposta conjunta para a atual crise global. Mesmo assim, advertiu que será necessário algum tempo para que todas essas medidas funcionem.
? Os países adotarão distintas medidas que se adaptem a suas circunstâncias (…), mas as medidas têm que ser coerentes ? explicou Zoellick, que citou como exemplo de uma boa ação o corte coordenado de taxas de juros decidido na quarta-feira pelos principais bancos centrais do mundo.