Adepto da tecnologia, Fábio usa e abusa de telefonemas, e-mails e MSN Messenger para driblar a saudade. Por causa da rotina, ou melhor, da inexistência dela, o dia-a-dia é sempre agitado. Viaja praticamente toda a semana pelo menos oito meses por ano.
Em épocas de intensa venda de gado e cavalos, como na primavera, sobra pouco tempo para os passatempos prediletos: ler e assistir a televisão com Manu. Nos últimos anos, o leiloeiro rural se descobriu apreciador de livros sobre fatos históricos e sabe tudo de canais de programação infantil.
Serão 36 leilões comandados por ele no Rio Grande do Sul até uma semana antes do Natal, um deles, o Tempera Crioula, esta noite, em Bagé.
Puxado? Aos 47 anos, o leiloeiro não acha. Otimista confesso, lembra que no inicio da carreira solo, em 1996, penou. Nada de avião ou celular. Para chegar aos remates, ia de ônibus, pedia carona para amigos e algumas vezes não tinha dinheiro na carteira nem para as despesas de estadia.
? Quando vou me queixar, olho para trás. Me queixo quando não tenho trabalho. Se a gente trabalhar com otimismo, as coisas fluem. Energia ruim quero longe de mim ? diz.
A ligação com o campo começou cedo. Enquanto colegas do Colégio Anchieta passavam as férias no Litoral, Fábio se divertia na Figueirinha, a fazenda da família, em Camaquã, para onde se mudou quando acabou o colégio. Foi conhecer o mar já adulto.
Dos tempos da fazenda, lembra com sorriso largo dos passeios a cavalo com vizinhos, amigos e familiares, que rapidamente se transformavam numa caravana. Aos quatro anos já montava, andava descalço e voltava para Porto Alegre com os pés rachados nas trilhas em meio às plantações de grãos.
Começou em 1982 a vida no púlpito, onde fica por até quatro horas em dias de grandes remates. Naquela época, o pai Fausto Crespo, um dos pioneiros no ramo, começava e depois passava o martelo para Fábio e o irmão Alexandre. Tempos em que os dois faziam mais de 20 leilões por mês, cada um. Desistiu da faculdade de administração no segundo semestre para se dedicar ao mundo dos leilões.
Cada dia mais fascinado pela raça crioula e com trabalho acumulado, após mais de uma década ao lado do pai, decidiu seguir a carreira sozinho. E, nos últimos anos, virou sinônimo de remates de crioulos. Pelo caminho, contou com a ajuda de amigos e do mestre, o pai. Lições de empreendedorismo, humildade e jogo de cintura que o colocaram no primeiro time dos leiloeiros gaúchos.
Fábio tem fama de rigoroso entre os colegas, mas se justifica: é para oferecer o melhor em pista, onde a concentração tem de ser de 110%. De hábitos simples, na vida pessoal, tenta viver o mais longe possível do estresse. Não tolera filas, desvia de shopping center aos finais de semana e começou a pensar no futuro.
Com uma comissão de 1,5% sobre a batida do martelo, em remates que vendem até R$ 4 milhões numa tarde, ser leiloeiro é um bom negócio. Mas Fábio não se enxerga nesta vida agitada daqui há 10 anos. E brinca:
? Se não fosse leiloeiro, teria sido dono de bar em alguma daquelas praias do Nordeste.