Quilombo em Canoas (RS) busca ampliar projetos em educação

Comunidade do Chácara das Rosas deve ter, em breve, planos de habitação iniciados pela prefeituraA origem do quilombo Chácara das Rosas, no bairro Marechal Rondon, em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre (RS), remete ao quilombo de Manoel Barbosa, em Gravataí. A fundadora do local, Rosa Barbosa de Jesus, era uma das 12 filhas de Manoel Barbosa e Maria Luiza Paim de Andrade. Ela se casou com João Maria Genelício de Jesus e os dois se mudaram para aonde atualmente é o Chácara das Rosas.

Localizada em uma então área rural, era comum plantações de flores e hortigranjeiros. Mas a crescente urbanização do município de Canoas fez com que a área perdesse suas características. Uma das moradoras mais antigas, Maria do Carmo de Jesus, 78 anos, conta que chegou ao local com 9 anos. Ela lamenta que a aptidão agrícola tenha se perdido no tempo.

? Era uma chácara muito especial. É ainda, mas quando começou, era uma chácara muito rica, com muitas frutas, flores, criação de porcos e galinhas. Tinha gado, tinha cavalo. A metade da chácara até aqui esta frente era com plantas de eucalipto, de acácia ? conta.

Além da estrutura, outra luta que a comunidade quer vencer é contra o preconceito. A moradora Neusa Genelício relata que são comuns casos de racismo com os moradores, inclusive com as crianças.

? Ainda temos este assunto de preconceito por aqui. A gente tem muito disso aqui. Nos colégios também. A gente está tendo muitos problemas. Muitas das crianças não estão querendo ir às aulas por causa disto ? ressalta.

Segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), cerca de 24 famílias vivem no território de 3,6 mil metros quadrados. O Chácara das Rosas foi o primeiro quilombo urbano que teve seu território totalmente titulado, fato que ocorreu em 20 de novembro de 2009. A presidente da Associação Quilombo Urbano Chácara das Rosas, Isabel Cristina Genelício, acredita que este é um primeiro passo para resgatar a cultura e história do movimento e manter a luta pela resistência.

? O mais importante a gente já conseguiu que foi o território. O território é importante para nós porque é aonde a gente desenvolve toda a questão social e estrutural da comunidade que, há muitos anos, lutou pela igualdade, e ainda luta pela igualdade, pelo espaço, pelos seus direitos ? enfatiza.

A luta da comunidade não foi em vão. Um acordo com a prefeitura de Canoas vai possibilitar a reforma das moradias do quilombo. Além disso, outras conquistas como luz e saneamento básico já foram entregues à comunidade. O morador Jorge Gabriel de Jesus salienta também o atendimento à saúde como uma das conquistas.

? A habitação já está para fazer as casas para nós e tudo está bem adiantado. No início a gente não tinha uma assistência de saúde por aqui, agora já vem um ônibus na comunidade para dar uma assistência de médico, de dentista. Não é sempre, mas de vez em quando eles vêm ? relata.

Na associação, a comunidade busca alternativas de geração de emprego para os moradores. Um dos trabalhos desenvolvidos pelo grupo de mulheres é o incentivo ao bordado. Mas uma das ideias é recuperar a antiga vocação do local, com a construção de hortas comunitárias. A criançada também tem espaços para leituras. Na sede da associação, existe um baú do projeto Arca das Letras, desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. Aliás, esta é a próxima luta da comunidade, segundo Isabel: a educação como formação de cidadãos.

? Aonde tem educação, a gente tem tudo, a gente tem porta. A gente tem que saber da realidade da vida da gente. Sabendo dos nossos direitos nós temos saúde. Estudando vamos saber a nossa real história, porque vamos nos interessar ainda mais, se aprofundar ainda mais. Se tivermos uma formação, conseguiremos desenvolver o nosso território ? acredita.

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