Ser vencedor do Concurso de Redução de Perdas na Colheita de Soja não é pouco. A colheitadeira, até o seu destino final, perde muitos grãos pelo caminho. No momento da colheita, o produtor brasileiro perde, em média, duas sacas por safra. São 2,7 milhões de toneladas ou quase R$ 2 bilhões deixados no campo.
No concurso de Cambé a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) comanda a pesagem das amostras recolhidas na hora da colheita. Agricultores ajudam como voluntários e fiscais.
No ano passado o produtor campeão perdeu pouco mais de uma saca e meia por hectare. Mas a média do município não chega a meia saca, menos do que o índice adotado como ideal pela Embrapa, que fica em 0,75 saca perdida por hectare.
O tempo trouxe mudança de hábitos, mas os últimos colocados revelam que ainda há muito a fazer.
? Cambé tem 35 mil hectares de soja. Se for comparar com o Paraná, que perde uma saca por hectare, Cambé está perdendo a metade. São perdidas 17.500 sacas, a R$ 40, isso dá R$ 700 mil. É dinheiro que não se jogou fora nas propriedades com a regulagem das colheitadeiras pelos operadores ? relata o extensionista da Emater de Cambe, Alcides Bodnar.
O agricultor Tiago Batistella é também o operador da colheitadeira na sua propriedade. Ele dá a receita contra o desperdício na hora de colher.
? Ele tem que acordar cedo, regular, examinar toda a máquina, regulagem de peneira, de cilindro, ventilação, e ter uma velocidade constante na máquina. Tanto lá atrás regulado como a plataforma, que é onde se tem uma “boa” perda, quando não está regulada. E o clima, durante o dia existem três regulagens: de manhã é uma regulagem, na hora do almoço, que é a hora do sol quente muda e à tardezinha ou ao anoitecer também muda. Ele tem que acompanhar todos esses fatores porque senão a perda é grande ? explica.
Para o Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade o concurso estimula o aperfeiçoamento profissional.
? Hoje há um interesse muito grande entre os operadores. Ninguém quer ficar para trás. Não se torna só uma competição, mas o interesse por melhorar o trabalho ? relata o presidente do sindicato, José Miguel Alonso.
A Embrapa tem um programa contra o desperdício da alimentação que envolve a redução de perdas na colheita.
? Não é só o foco no grão, é o foco geral, frutas, hortaliças de maneira geral. A preocupação do governo é orientar os técnicos e os produtores para a conscientização do problema de perda, que é inerente a qualquer processo. Através de treinamentos e informações a ideia é que essa perda seja mínima, para que ele possa ter um maior rendimento. Mas a perda no Brasil é grande. São várias as condições, a perda no transporte, desde as fazendas até os silos, os armazéns, as condições de estradas e de caminhões contribuem. Quando a gente olha dentro da propriedade, no processo de colheita em si, é o treinamento do operador da máquina para que ele saiba o que pode acarretar uma elevada perda de grãos na colheita de soja ? ressalta o pesquisador da Embrapa Soja, José Miguel Silveira.