Pecuaristas preocupados com embargo russo investem em outras atividades rurais em Minas Gerais

Bons preços obtidos com a pecuária não são suficientes para deixar produtores tranquilosA pecuária de corte vem garantindo renda nos últimos 10 meses com pouca oscilação no preço da arroba. Mas, a notícia do embargo russo está preocupando e deixando os pecuaristas na incerteza. Em Minas Gerais, tem produtor rural mudando o perfil e buscando diversificar a atividade.

O mercado da carne sentiu o golpe dos russos. O frigorífico JBS, por exemplo, manda para a Rússia 10% do que abate em Mato Grosso, cerca de mil animais por dia. O diretor da divisão de carnes, Hercio de Souza Filho, está preocupado com o reflexo deste cenário que pode criar uma concorrência entre suínos e bovinos no mercado interno.

? A suíno que era exportado muito para a Rússia vai ser colocado no mercado interno também, dando problema para o produtor de bovino que vai ter uma competição maior da carne.  No inverno tem consumo maior do suíno, reduzindo o valor do boi ? disse Hercio.

Uma unidade do frigorífico JBS em Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, recebe 1,1 mil animais por dia. No final de abril, a arroba caiu em R$ 3, o que gerou uma queda de braço entre pecuaristas goianos e mineiros e o frigorífico. No dia 17 de maio, o abate reduziu 27%.

Três dias depois, o preço voltou a subir e recuperou R$ 2, o suficiente para voltar ao normal. O preço vem se mantendo em R$ 90 nos últimos 20 dias e agradando as duas partes.

? O produtor está mais por dentro dos seus custos e vendo que a indústria também não tem margem. Então, esta queda de braço está mais para um aperto de mão do que a queda propriamente dita ? falou Hercio.

Nesse aperto de mãos, os pecuaristas vão negociando, mas querem mudar o perfil. O produtor rural Neilton Jacinto de Freitas tomou uma decisão difícil, mas eficaz. Nos últimos três anos reduziu o rebanho em 40% para pagar as contas e alinhar a atividade dentro da realidade do mercado. Hoje, tem 3,5 mil animais em fazendas de Goiás e Minas Gerais. É neste confinamento que ele faz a terminação de mil animais por ano.

? Nesta economia globalizada, você está extremamente comprometido se estiver endividado. Então, a primeira solução foi justamente desfazer-se de parte do patrimônio para quitar dívidas e retornar ao sistema produtivo de uma forma equilibrada ? frisou Neilton.

O produtor organizou as fazendas, o manejo e acertou os custos. Nos últimos 10 meses, conseguiu tornar a pecuária rentável com a alta dos preços. Agora, que passou a acreditar em uma estabilidade, vem a incerteza com os russos.

? Você faz uma projeção para vender o animal por um preço x, por que você projetou o custo. E esse custo, em função das condições climáticas, pode aumentar ainda mais. E aí vem a possibilidade da Rússia de dar esse susto, eu não sei ? observou Neilton.

O zoneamento agropecuário de Minas Gerais definiu uma política para incentivar as regiões produtoras. No Triângulo Mineiro, por exemplo, nas chamadas terras aproveitáveis, tirando as APPs e reservas legais, os produtores podem definir 30% para pecuária, 30% para agricultura e 30% para agroenergia. Neilton está trabalhando para entrar nessa diversificação para não depender apenas da arroba do boi.

? Vamos adotar a agricultura de precisão para saber onde e quanto aplicar nos insumos. Vou economizar em 30% ? disse Neilton.