Para o leite chegar ao consumidor final existe uma cadeia produtiva que começa na seleção genética, nos cruzamentos, na busca pelas vacas que garantam boa produtividade com o menor custo possível para cada litro de leite. Em Minas Gerais, na maior bacia leiteira do país, nos últimos anos os produtores estão mudando conceitos para atender as exigências de qualidade do leite.
A receita para o chamado leite tropical está no cruzamento das raças leiteiras zebuínas com as européias. Na fazenda São José em Ituiutaba a aposta é na raça sindi. É o maior rebanho deste zebuíno puro de origem do país. Uma vacada que na pastagem chama a atenção. Mas o que vale é o resultado na ordenha que credenciou a fazenda no mercado internacional.
Em dois anos foram vendidos 30 touros e 220 fêmeas para Angola, Senegal e Congo. A venda de genética para criatórios de seleção custa R$ 8 mil por novilha, já o cruzamento de sindi com holandês que gera o sindolando, e o sindi com Jersey que cria o sinjer custa R$ 3,5 mil em média. É esse cruzamento que chega à ordenha do produtor que depende do leite.
? Desde 2008 o mercado vem aquecido pra nós. E aquecendo cada vez mais, e inclusive com os cruzamentos, não só com o gado puro de origem, mas no cruzamento a procura está muito grande. Estamos fazendo a produção deste gado. Estamos tendo que aumentar em ritmo acelerado a produção deste gado porque a procura é grande ? relata o pecuarista Wilson Rubia Junior.
Rubia comemora esse aquecimento do mercado mas está preocupado com os produtores que esquecem de fazer as contas na hora de escolher as vacas.
? Tem vacas que o custo do litro de leite sai a R$ 5. Eu acho que não é por ai, o ideal para a pecuária leiteira brasileira é conseguir tirar o leite com custo baixo, ai você vai ver o dinheiro do leite que está produzindo, não vai simplesmente trocar o laticínio por uma fabrica de ração, insumos e silagem. Tem muita gente não fazendo esta conta que acho que é importante fazer. O volume de leite tirado por cabeça dia tem que ser viável tem que ser barato ? expõe.
A exemplo do que acontece com a raça sindi a genética nas diversas raças leiteiras que estão do país vem ganhando espaço conforme o mercado responde ao investimento dos produtores de leite que dependem da atividade. As pequenas propriedades estão crescendo não apenas em produção mas também em qualidade e eficiência.
Só no município de Ituiutaba nos últimos cinco anos a produção pulou de 120 mil para 150 mil litros por dia. A propriedade de Romes Gouvêa Bastos, tradicional na atividade, está aumentando o rebanho, com genética apropriada para uma media produtiva que garanta um custo compatível com os preços do litro de leite. O mercado está mais consistente para absorver investimentos com segurança, é o que está sentindo o pecuarista que vai ampliar de 800 litros por dia para mais de 1200 ainda este ano.
? Como tudo esta se tornando mais profissional isso esta dando a chance além de ser agradável é rentável. Leite hoje é uma atividade pra poucos. O leite te permite sair de uma pequena produção durante o ano e chegar de médio a grande produtor em pouco espaço de tempo. Isso só depende da profissionalização ? ressalta.
Os laticínios vêm notando a diferença, estimulando a nova geração dos produtores de leite e apostando na mudança de conceito dos tradicionais. A qualidade do produto que chega à indústria está cada vez melhor.
? Nós estamos recebendo hoje de 32 a 35 mil litros por dia. Nós percebemos que de uns três anos pra cá a nossa qualidade melhorou, não em função só da participação do bônus que a gente oferece por qualidade ao produtor, mas a própria cultura familiar está fazendo com que ele se profissionalize cada vez mais. Mas acreditamos que vamos conseguir muito mais leite com muito mais qualidade nos próximos anos ? relata o proprietário laticínio Canto de Minas, Jorge Abdo.