Toda a tecnologia desenvolvida em laboratório volta para o campo em forma de sementes, adaptadas para necessidades específicas dos agricultores. E, pensando em termos de colheita, este trabalho invisível de pesquisa abastece uma boa parte do silo. Outra depende do manejo correto das lavouras pelos produtores. E, para completar o armazém é preciso contar com a ajuda do clima que por enquanto nem a ciência nem os agricultores conseguem dominar.
Assim como a Embrapa, a Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec) pesquisa um material genético de soja que não sofra tanto o estresse hídrico. A soja resistente à seca ainda não tem prazo para lançamento, mas as pesquisas avançam a cada dia.
Nos laboratórios a biotecnologia também está presente. Todos os estudos são orientados de acordo com a necessidade dos 180 mil agricultores, associados às 34 cooperativas que sustentam a instituição.
? A gente também tem uma proximidade muito grande com os agricultores porque todos os nossos pesquisadores participam ao longo do ano de dias de campo, eventos de difusão, eventos em que o contato com o agricultor é bastante próximo e a gente pode escutar do agricultor suas demandas. Isso tudo internamente vira trabalho, vira projeto de pesquisa para tentar atender essas demandas. A gente tem também tentado atender a demanda do consumidor, que no nosso caso muitas vezes são as indústrias das cooperativas, que tem necessidades específicas de produtos com padrões de qualidade definidos para atender as suas indústrias e os seus mercados ? conta o gerente da Divisão de Pesquisa da Coodetec, Ivan Schuster.
Mais de 200 materiais desenvolvidos em laboratório pela cooperativa de pesquisa estão presentes em várias regiões do Brasil e ainda na Bolívia, no Paraguai, no Uruguai e na Argentina.
? A relação que ela tem com a cooperativa traz mais proximidade, encurta muito os caminhos do que a pesquisa tem que enxergar, daqui a 10 anos, qual vai ser a necessidade desses produtores. Isso é um ponto que favorece a Coodetec pela proximidade, mas o foco dela é gerar produtos para atender o mercado de forma geral ? explica o gerente comercial da Coodetec, Marcelo da Costa Rodrigues.
Para o produtor de sementes Carlos Alberto Zuquetto a qualidade dos materiais desenvolvidos no Brasil é boa. Mas, grandes complexos tecnológicos multinacionais colocam em risco a liderança nacional no setor. Segundo Zuquetto, só a tecnologia com apoio financeiro e sem burocracia pode manter o Brasil competitivo.
? As empresas nacionais estão altamente defasadas em tecnologia em relação a multinacionais que vêm chegando. Até anos atrás não se podia ter uma genética com tanta facilidade e também era proibido trazer genética de fora para desenvolver no Brasil. Assim o agricultor contrabandeou soja da Argentina, que já vinha tendo sucesso com a genética americana principalmente, e foi o que fez com que o Brasil, de uma forma ou de outra, assinasse leis que permitissem que o agricultor e a pesquisa partissem para esse desenvolvimento. Só que quando foi permitido entrar a semente de fora, eles já vieram muito bem escorados, com um estudo muito antigo, o que não aconteceu com a Embrapa, o que não aconteceu com a Coodetec, o que não aconteceu com outras empresas nacionais. Então agora, elas estão correndo atrás ? conclui o produtor.