São dezenas de histórias parecidas com a do produtor rural Júlio Selback. Gente que queria investir na propriedade e passou a alimentar uma dívida difícil de ser paga.
? O financiamento de investimento não tinha juro, mas os custeios eram juros de 8,75%. Quando chegava a parte do investimento, você já tinha entregado todo o seu fumo e não chegava para cobrir todo o investimento. A partir daquele momento, tudo que ficava pra trás do investimento que era sem juros, passava a ter juros de 12%, multa e várias outras coisas ? conta o produtor.
Os valores financiados desde 2003 foram dobrando e até triplicando de tamanho.
? A minha dívida eu acho que deve estar em R$ 200 mil. Eles me deram R$ 65 mil. Eu fui pagando, deu uns anos brabos de seca e não conseguia pagar. Então eles vão cobrando juros daquela parte. Então chegou a um ponto que eles não quiseram mais me dar os adubos, os insumos. Aí como é que eu vou pagar? ? questiona o produtor Sérgio dos Santos.
Segundo os produtores, a situação fica ainda mais difícil porque o fumo é desvalorizado na hora da classificação feita pelas empresas.
? Chega lá com um fumo de ótima qualidade, eles sabem que é de ótima qualidade, mas não vale nada. É R$ 30, R$ 40 a média, no máximo R$ 60. São eles que fazem, nós obedecemos. E a dívida tu não consegue terminar. Cada vez mais alta e eles te pressionando ? ressalta o produtor rural João Dias.
? No sistema em que a gente foi criado, ficar devendo é uma situação constrangedora ? comenta o produtor Olmerindo Dornelles.
A denúncia dos produtores chegou à Comissão de Agricultura da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. Na semana passada, os deputados solicitaram ao Ministério Público que investigue se houve algum crime no financiamento feito pelas empresas.