Países reduzem importação de carne bovina

Pecuária é tema da primeira reportagem da série sobre os efeitos da crise financeira nas cadeias produtivas do agronegócio brasileiroEscassez de recursos para investimentos na cadeia produtiva e recuo do consumo mundial de carne bovina são os efeitos da crise financeira mundial na pecuária brasileira. Com a redução das exportações sobra boi no mercado interno e o produtor já está recebendo menos pela arroba. Este é o assunto da primeira reportagem da série especial sobre os efeitos da crise nas principais cadeias produtivas do agronegócio.

A crise financeira mundial, que estourou nos Estados Unidos há pouco mais de dois meses, já atingiu os negócios do pecuarista Evaldo Garcia em Dois Irmãos do Buriti (MS). Dono de uma fazenda com três mil cabeças de gado, o criador calcula os prejuízos provocados pela turbulência no mercado:

? O boi em setembro chegou a R$ 95, então se estabilizou a R$ 90 e depois que veio a crise ficou em torno de R$ 85. Isso para o pecuarista é uma grande perda, porque a reposição que ele comprou há dois ou três meses foi paga neste preço, pensando que o boi iria a R$ 93. Então essa reposição está ficando muito cara.

A queda nos preços pagos ao pecuarista é provocada pelo aumento da oferta de gado no mercado interno. Com a falta de crédito gerada pela crise, os estrangeiros seguraram as compras nos últimos meses. Maior importador de carne bovina do Brasil, com 31% do mercado, a Rússia passa por problemas econômicos. Está comprando menos carne e não consegue pagar o que importa.

? Evidentemente há mercados mais sensíveis. No caso da Rússia temos sentido dificuldade nos pagamentos ? conta o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Exportadores de Carne Bovina (Abiec), Roberto Gianetti da Fonseca.

O Brasil possui o maior rebanho comercial de gado do mundo e apesar de ser o mais importante exportador de carne bovina, comercializa apenas 20% do que produz. Os outros 80% são absorvidos pelo mercado interno. Para o ex-ministro da Agricultura e ex-presidente da Abiec Marcus Vinícius Pratini de Moraes, as vendas da proteína animal para outros países devem cair até 40% no mês de novembro. Mas, segundo ele, isso não significa que os estrangeiros estão comendo menos carne.

? Tendem a cair [as vendas] porque os preços subiram muito e muitas moedas caíram. O pessoal quer examinar preços e renegociar prazos de entrega. Não tem financiamento e esse efeito é que gera realocação e estoques menores. Também aumentou a taxa de juros, então quem trabalhava com 30 dias de estoque vai diminuir para de 15 a 20 e vai querer embarques mais freqüentes. Quando o ajuste está em curso há uma queda nas exportações e naturalmente nas importações.

O pecuarista Evaldo Garcia tem um bom recurso para atravessar a crise. Antes de a turbulência financeira chegar, ele investiu no melhoramento genético do rebanho e conseguiu reduzir o tempo de terminação dos animais. O abate do gado, que antes era realizado entre 36 e 40 meses, hoje pode ser feito com a metade do tempo. A medida proporcionou redução nos custos para o criador. Mesmo assim, ele torce para que não faltem compradores para a carne brasileira.

? Acho que a reposição vai entrar no mercado trabalhando com a arroba a R$ 85, o que já é uma grande coisa. Acredito que o consumo com esta crise não vai aumentar, deve até diminuir. O mercado deve ficar como está. A gente só pede que não aconteça mais nada no mercado externo.