Analistas estimam que preços das commodities devem seguir subindo nos próximos 15 anos

Congresso Brasileiro do Agronegócio reuniu economistas que discutiram futuro do setorApesar dos sintomas de uma crise financeira internacional, com possível recessão na economia, os preços das commodities agrícolas tendem a manter a atual tendência de alta por, pelo menos, 10 a 15 anos. A previsão foi feita pelo consultor da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, durante o 10º Congresso Brasileiro do Agronegócio (CBA), que ocorre nesta segunda, dia 8, no município de São Paulo.

Numa perspectiva de queda dos preços do petróleo tipo Brent, para níveis entre US$ 80 e US$ 100, os preços das commodities poderiam ser mais afetados – hoje o barril para setembro fechou a US$ 103,74. Neste caso, ponderou, a queda dos preços dos fertilizantes e do custo de transporte poderia compensar o recuo das cotações agrícolas.

Mendonça de Barros relativizou a atuação dos fundos nos mercados de commodities agrícolas, dizendo que, embora tenham sido importante vetor da variação de preços, ampliando a tendência – de alta ou baixa -, não são capazes de alterar os fundamentos.

? Neste sentido, a proposta de (Nicolas, presidente da França) Sarkozy de eliminar os fundos é equivocada ? concluiu.

Na avaliação de Mendonça de Barros, a continuidade de alta depende de dois pontos: a continuidade da força do crescimento da Ásia, principalmente da China, e a demanda por energia renovável.

O atual quadro para as commodities, segundo o consultor, se dá pela alteração no comando da definição dos preços. Até 2003, era a oferta que “dava as cartas”. No momento, quem comanda a tendência dos preços é a demanda. Entre os fatores de demanda, Mendonça de Barros citou o crescimento da população mundial, o aumento da renda, a produção de biocombustíveis, a desvalorização do dólar e a ação dos fundos em commodities agrícolas.

? Alguns fatores de oferta também contribuíram para este cenário, entre eles, a mudança climática, com os extremos prejudicando a produção, a área plantada recuando gradativamente na China e a impossibilidade de a África produzir mais em um curto período de tempo ? explicou.

Na avaliação de Barros, a demanda no Brasil também deverá continuar crescendo, tanto em volume como em qualidade. O economista não acredita que a crise financeira mundial altere este quadro.

? Isso deverá trazer mais volatilidade. Uma alteração brusca nesta tendência só deveria ocorrer com uma queda no crescimento da Ásia, o que não deverá ocorrer. Mesmo com uma possível queda do petróleo, e com a China corrigindo o ritmo de crescimento, os outros países emergentes deverão continuar crescendo ? avaliou.

Até o momento, o Brasil tem mostrado êxito em atender a este aumento da demanda mundial por grãos. Mas há problemas que deverão ser enfrentados. Mendonça alerta para a grande dependência da China.

A saída poderia ser aumentar a participação na produção de energia renovável, com biocombustíveis de segunda geração ? disse, lembrando que o custo de produção elevado e as novas restrições completam os desafios para o Brasil.

? Não podemos esquecer do problema de escassez de água, da queima da floresta e da regulação, que está piorando de qualidade.

Para Mendonça de Barros, o Brasil precisa buscar novas oportunidades, como o biodiesel, a segunda geração dos biocombustíveis e a exploração sustentável da floresta.

O sócio diretor da Decisão Consultores Associados, José Milton Dallari, destacou o aumento da renda interna no Brasil, como fator de sustentação dos preços das commodities.

? Mesmo sendo um importante player no mercado internacional, o Brasil precisa pensar muito no abastecimento interno. A demanda da classe C veio para valer ? apontou Dallari.

Para presidente da Brasil Foods SA, José Antônio do Prado Fay, o alimento é básico e não “morte súbita” para o consumo. Fay também acredita que a China ainda consome pouco produto industrializado brasileiro e se torna uma grande oportunidade.

? Há ainda muito espaço para a China no que diz respeito ao consumo de proteínas ? afirmou Fay.

O presidente Cocamar Cooperativa Agroindustrial, Luiz Lourenço, destacou a capacidade do setor em produzir e garantir o abastecimento interno, criando um elevado excedente exportável. Ele aposta no crescimento da produção de biocombustíveis, considerada por ele uma garantia de liquidez e renda ao produtor.