Numa perspectiva de queda dos preços do petróleo tipo Brent, para níveis entre US$ 80 e US$ 100, os preços das commodities poderiam ser mais afetados – hoje o barril para setembro fechou a US$ 103,74. Neste caso, ponderou, a queda dos preços dos fertilizantes e do custo de transporte poderia compensar o recuo das cotações agrícolas.
Mendonça de Barros relativizou a atuação dos fundos nos mercados de commodities agrícolas, dizendo que, embora tenham sido importante vetor da variação de preços, ampliando a tendência – de alta ou baixa -, não são capazes de alterar os fundamentos.
? Neste sentido, a proposta de (Nicolas, presidente da França) Sarkozy de eliminar os fundos é equivocada ? concluiu.
Na avaliação de Mendonça de Barros, a continuidade de alta depende de dois pontos: a continuidade da força do crescimento da Ásia, principalmente da China, e a demanda por energia renovável.
O atual quadro para as commodities, segundo o consultor, se dá pela alteração no comando da definição dos preços. Até 2003, era a oferta que “dava as cartas”. No momento, quem comanda a tendência dos preços é a demanda. Entre os fatores de demanda, Mendonça de Barros citou o crescimento da população mundial, o aumento da renda, a produção de biocombustíveis, a desvalorização do dólar e a ação dos fundos em commodities agrícolas.
? Alguns fatores de oferta também contribuíram para este cenário, entre eles, a mudança climática, com os extremos prejudicando a produção, a área plantada recuando gradativamente na China e a impossibilidade de a África produzir mais em um curto período de tempo ? explicou.
Na avaliação de Barros, a demanda no Brasil também deverá continuar crescendo, tanto em volume como em qualidade. O economista não acredita que a crise financeira mundial altere este quadro.
? Isso deverá trazer mais volatilidade. Uma alteração brusca nesta tendência só deveria ocorrer com uma queda no crescimento da Ásia, o que não deverá ocorrer. Mesmo com uma possível queda do petróleo, e com a China corrigindo o ritmo de crescimento, os outros países emergentes deverão continuar crescendo ? avaliou.
Até o momento, o Brasil tem mostrado êxito em atender a este aumento da demanda mundial por grãos. Mas há problemas que deverão ser enfrentados. Mendonça alerta para a grande dependência da China.
A saída poderia ser aumentar a participação na produção de energia renovável, com biocombustíveis de segunda geração ? disse, lembrando que o custo de produção elevado e as novas restrições completam os desafios para o Brasil.
? Não podemos esquecer do problema de escassez de água, da queima da floresta e da regulação, que está piorando de qualidade.
Para Mendonça de Barros, o Brasil precisa buscar novas oportunidades, como o biodiesel, a segunda geração dos biocombustíveis e a exploração sustentável da floresta.
O sócio diretor da Decisão Consultores Associados, José Milton Dallari, destacou o aumento da renda interna no Brasil, como fator de sustentação dos preços das commodities.
? Mesmo sendo um importante player no mercado internacional, o Brasil precisa pensar muito no abastecimento interno. A demanda da classe C veio para valer ? apontou Dallari.
Para presidente da Brasil Foods SA, José Antônio do Prado Fay, o alimento é básico e não “morte súbita” para o consumo. Fay também acredita que a China ainda consome pouco produto industrializado brasileiro e se torna uma grande oportunidade.
? Há ainda muito espaço para a China no que diz respeito ao consumo de proteínas ? afirmou Fay.
O presidente Cocamar Cooperativa Agroindustrial, Luiz Lourenço, destacou a capacidade do setor em produzir e garantir o abastecimento interno, criando um elevado excedente exportável. Ele aposta no crescimento da produção de biocombustíveis, considerada por ele uma garantia de liquidez e renda ao produtor.