Nas últimas seis safras, a produção de grãos mato-grossense registrou um crescimento de 43%, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Somente o volume produzido de soja, por exemplo, saltou de 15,8 milhões toneladas na safra 2005/2006 para mais de 20 milhões na safra passada. Mesmo assim, o endividamento do Estado é gigantesco.
Para discutir a gravidade da situação e procurar soluções, a Assembleia Legislativa do Estado realizou uma audiência pública com a participação de produtores e de deputados que integram a Subcomissão de Endividamento da Comissão de Agricultura no Congresso Federal. Trabalhadores rurais lotaram o plenário com faixas e cartazes.
Segundo a classe produtiva, agricultores descapitalizados passaram a vender ou a arrendar as áreas de cultivo. Além disso, a concentração de terras nas mãos de grandes preocupa. Hoje os grupos internacionais instalados no Estado já são responsáveis por 24% da produção agrícola.
? O endividamento é antigo e as soluções sempre foram paliativas. O que a gente espera é medida rápida, eficiente e que preserve quem está no campo, para que Estado não vire um pólo de produção internacional ? diz o agricultor Ricardo Tomczyk.
Do total de dívidas, pelo menos R$ 1 bilhão corresponde às pendências com a prorrogação das parcelas contraídas na compra de máquinas entre 2004 e 2005. Presidente do Sindicato Rural de Campo Novo do Parecis, o agricultor Alex Utida explica que os juros cobrados na compra de maquinários são bem superiores ao valor original dos equipamentos.
? O maior problema é os bancos de fábricas. Sofro ações em que tentam arrestar minha máquina. Comprei apenas uma, mas a dívida é como se fosse de quatro ? declara.
Durante a audiência, representantes do setor rural enfatizaram que a solução é o abatimento do saldo devedor e não uma nova prorrogação para o pagamento das pendências.
? O problema é crônico e vem de anos. É importante fazer este diagnóstico e entender a situação para trazer solução. Queremos, a partir destes trabalhos, possibilitar que produtores façam saneamento das dívidas ? diz o presidente da Famato, Rui Prado.
Em todo o Brasil, o endividamento rural chega a R$ 114 bilhões. Nos próximos meses, outras audiências serão realizadas em Estados produtores. O primeiro relatório da subcomissão deve ser apresentado até o fim de novembro.