Após cinco aumentos seguidos do juro entre janeiro e julho, que somaram 1,75 ponto à taxa Selic, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC entendeu que não havia razão para continuar subindo o juro. Assim, os diretores do BC mostram que, após meses de trabalho para segurar a alta da inflação e esfriar a economia, agora é necessário acelerar a atividade econômica em reação à crise global.
“O Comitê avalia que o cenário internacional manifesta viés desinflacionário no horizonte relevante”, cita o comunicado após a decisão que, pela primeira vez em muito tempo, tem duas páginas de explicações.
A principal mudança para essa a avaliação do BC veio do exterior. O rebaixamento da nota de risco dos EUA no início do mês deflagrou uma série de revisões para pior das projeções dos economistas sobre o que deve acontecer com a economia mundial nos próximos meses. A percepção geral é que países centrais devem demorar ainda mais para sair da crise e crescer. Para o BC, o quadro representa maior incerteza da influência externa sobre o mundo e o Brasil.
Se economias centrais crescerem menos, a demanda por produtos e serviços brasileiros seguirá fraca. Isso vai reduzir o ritmo da economia doméstica. O Bradesco, por exemplo, prevê que, se a economia mundial crescer um ponto porcentual menos, a expansão no Brasil deve perder pelo menos 0,65 ponto. Menos crescimento reduz a pressão de alta nos preços e diminui a necessidade de elevar o juro para manter a inflação sob controle.
Mesmo sem o quadro externo, o noticiário local já apontava para o fim do ciclo de aperto dos juros. Um dos principais sinais veio do Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), dado que antecipa o comportamento do PIB e mostrou em junho a primeira queda desde dezembro de 2008. No mercado de trabalho, a criação de empregos tem perdido força e o próprio BC divulgou números que mostram desaceleração no ritmo de concessão de empréstimos.
Com isso, o BC ignora a inflação que segue em ritmo elevado. Nos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo tem alta acumulada de 6,87%, acima do teto da meta de inflação que é de 6,50%. Para os próximos 12 meses, a expectativa para o IPCA é de 5,47%.