Aos poucos a rodovia que corta o Cerrado e a Amazônia é transformada. O que durante muito tempo parecia apenas um caminho aberto no meio da mata, agora avança. Ganha proporções maiores e recebe a merecida atenção, aguardada por muita gente. Afinal, a 163 é considerada uma peça indispensável para montar o quebra-cabeça logístico do Brasil central. E não é difícil entender o motivo.
? A nossa região se desenvolveu de forma muito rápida. Nós saímos, em pouco tempo, para uma produtividade excelente e o próprio aumento de área e de produtividade. E o grande gargalo deste tempo todo foi a logística. Então esta mudança, a saída para Santarém, vai significar um ganho significativo para o produtor, a região, parte social, nós só temos a ganhar. O nosso grande gargalo aqui é a logística ? afirma o presidente do Sindicato Rural de Lucas do Rio Verde (MT), Júlio Cinpak.
As palavras de Júlio retratam a realidade de quem vive e produz na região. Enquanto a BR não está completamente asfaltada, o escoamento da safra agrícola tem que ser direcionado para os portos de Santos ou Paranaguá, que ficam a dois mil quilômetros de distância.
? Hoje a tonelada do frete é entre US$ 150, US$ 160. Isso, em alguns anos, representou mais do que o produto valia. O frete aqui chegou a custar mais caro que o produto. Este é um grande gargalo para o desenvolvimento e a gente vê agora esta possibilidade, que já vem tarde, mas antes tarde do que nunca ? conta o produtor.
Se as condições da rodovia impedem o seu uso como uma alternativa, o atual ritmo das obras de pavimentação enche a classe produtora de esperança.
? O produtor começa a ter nova opção de saída para o escoamento da produção. O que temos hoje, que é levar a soja de Mato Grosso da região norte e médio norte para Santos, vamos viabilizar uma saída para Santarém onde a distância é menor, com frete mais barato e agilidade de trânsito. Redução de custo, agilidade no escoamento, muito mais segurança, a Aprosoja busca isso, alternativas para melhorar a renda do produtor ? explica o gerente técnico da Aprosoja, Luiz Nery Ribas.
Mais de 40 dos 141 municípios de Mato Grosso sofrem influência direta da BR-163. Juntos são responsáveis por pelo menos 50% dos grãos produzidos no Estado. Carga que poderá percorrer uma distância bem menor para chegar até o destino, com custos igualmente reduzidos.
? Se tomarmos como base Sinop. De Sinop a Santarém são 1,3 mil quilômetros e você entra na hidrovia do Tapajós. Ou entra em Santarém já no navio, ou vai a Miritituba, que vai dar 1,1 mil quilômetros aproximadamente. Tem o embarque em balsas ou barcaças, que vão transportar até Santarém também, ou até Vila do Conde ou Outeiro em Belém. Então, quando você junta estes custos de transporte rodoviário mais o hidroviário, nós acreditamos que o produtor vai ter um impacto no bolso favorável entre R$ 4 e R$ 6 por saco de soja. Isso para quem corre o risco de no futuro ter um preço da soja menor que o de hoje, é a forma de ele viabilizar a produção ? ressalta o coordenador executivo do Movimento Pró-logística, Edeon Vaz Ferreira.
Reconhecidamente um dos maiores produtores de soja do mundo, Eraí Maggi também acompanha o avanço do asfalto na 163. Ele acredita que a nova opção logística irá desafogar o tráfego e a oferta de produtos no sul do país. Além disso, explica que a redução nas despesas com frete, pode ser revertida em maiores investimentos no campo.
? Estou aqui há mais de 30 anos, acredito que a média de lucro que o produtor do Mato Grosso tem, acho que US$ 100 hectare ano. Hoje estamos pagando US$ 150, US$ 160 para colocar ou tirar uma tonelada no navio. Esta diferença é US$ 100. Podemos fazer 10 toneladas de US$ 100 é US$ 1 mil por hectare. O produtor está ganhando US$ 100 e deixando US$ 1 mil na estrada! Está deixando de plantar mais! Pode ampliar tecnologia e no sul do país vai ter emprego ? afirma.
A região que será beneficiada pela rodovia produz atualmente cerca de 15 milhões de toneladas de grãos. Com a nova condição logística e maiores investimentos no campo, poderá elevar a produção para mais de 27 milhões de toneladas, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
O Canal Rural produziu uma série de reportagens sobre a rodovia BR-163 mostrando a história, o ritmo das obras e a importância da pavimentação da estrada que corta o Cerrado e a Amazônia. Acompanhe esta jornada, reveja as matérias que já foram ao ar!