Desvalorização de commodities faz preço do trigo recuar no Brasil e na Argentina

Bolsas acumulam perda de mais de 18% em setembroA forte desvalorização das commodities no mercado internacional puxou para baixo os preços do trigo na Argentina e no Brasil. As cotações desta sexta, dia 23, para trigo com alto teor de proteína (acima de 11%) vão de US$ 280 (outubro) a US$ 270 por tonelada (novembro, quando entra da safra argentina). Também variam entre os valores R$ 515 e R$ 497 por tonelada ao câmbio desta sexta.

Produto com menor teor é negociado por US$ 265 a tonelada. Trata-se de um recuo de quase US$ 20 em uma semana. No Paraná, onde a colheita se aproxima de 50% da área semeada, as ofertas, que na semana passada giravam em torno de R$ 500 por tonelada, agora estão na faixa de R$ 480, e até R$ 470 dependendo da logística. Nas Bolsas de Chicago e Kansas, os preços futuros do trigo reagiram nesta sexta, mas acumulam perda de mais de 18% no mês de setembro (contrato novembro).

Cotações contribuem com a importação e com o setor industrial

Para a indústria moageira, que começa a planejar compras para recompor estoques a partir de novembro, os preços começam a ficar atraentes. Há, porém, a questão do câmbio. A moeda americana recua hoje quase 3,5%, mas ainda tem valorização de mais de 15,5% sobre o real desde 1º de setembro. O quadro deve favorecer a comercialização da safra nacional, de acordo com o diretor-presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih. Segundo ele, produtores e cooperativas deveriam aproveitar o momento para negociar parte da produção, já que, na sua avaliação, a reação do dólar tende a ser revertida, passado o momento especulativo.

Outros representantes da indústria e de tradings trabalham com câmbio sustentado. Em encontro informal nesta semana em São Paulo, avaliaram que o patamar de R$ 1,50 é coisa do passado. Já os preços, acreditam, têm tendência de queda, pressionados pela oferta do Hemisfério Sul. Depois do Paraná, chegam ao mercado, as safras do Paraguai, Rio Grande do Sul (outubro/novembro), Argentina e Uruguai (dezembro).

? O quadro de oferta e demanda de trigo no mundo não justifica queda tão grande das cotações nas bolsas americanas nesta semana ? aponta Lawrence Pih.

Ele afirma que, a partir de outubro, a disponibilidade de trigo do Mar Negro tende a arrefecer e o mercado perde um fator de pressão. Em relação à oferta para os moinhos brasileiros, Pih calcula que, considerada as safras de Paraguai, Uruguai e Argentina, o Brasil poderá contar com pelo menos 7,7 milhões de toneladas de trigo do Mercosul. Haverá outros importadores, mas o Brasil, pela proximidade, tem certa vantagem na compra. De todo modo, a Argentina já teria negociado 200 mil toneladas da safra nova para outros países. O Brasil importa cerca de 50% das necessidades internas de trigo. Com uma safra estimada em 5 milhões de toneladas em 2011, a importação ficaria também em torno de 5 milhões de toneladas.