O setor agrícola de Luiz Alves foi o mais atingido entre as cidades da região em Santa Catarina. As maiores perdas foram registradas nos bananais, onde o prejuízo chega a R$ 14,9 milhões e atinge 415 produtores.
Um deles é José Vicente Schmitt, 47 anos. Ele teve um terço da plantação de 24 mil pés condenada. A areia dos deslizamentos cobriu os troncos das árvores em 50 centímetros. Antes, Schmitt utilizava escadas para colocar os sacos plásticos que protegem os cachos. Agora, ele alcança os frutos apenas erguendo os braços.
O engenheiro agrônomo da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) José Salvador explica que o soterramento não permite que o oxigênio chegue às raízes, matando a planta. Esse problema, aliado ao alagamento e à queda de árvores sobre as plantações, é responsável por 14% das perdas nos bananais.
Outros 15% correspondem à falta de controle de fungos nas árvores. A chuva que atingiu a cidade nos últimos três meses não permitiu que a pulverização fosse realizada.
A impossibilidade de colher os frutos das bananeiras causou, ainda, a perda de 4% da produção. Em algumas propriedades, há 20 dias o corte não é realizado, pois, com as estradas fechadas, as plantações estão inacessíveis.
Nova plantação só em 18 meses
Esses três fatores farão com que Schmitt deixe de vender, nos próximos meses, 8 mil caixas de banana e de faturar R$ 64 mil. Ele também precisará derrubar 8 mil árvores e plantá-las novamente.
Antes disso, terá de revirar o solo, trazendo a terra saudável para cima e colocando a areia para baixo. O produtor e seus três filhos, porém, ainda não começaram o trabalho. Eles não têm máquinas para fazer a drenagem do terreno.
Osnildo José Reinert, 45 anos, também produz bananas. São 10 hectares que, por sorte, estão praticamente intactos. Os outros 12 hectares de sua propriedade, no entanto, foram devastados. Nessa área, ele possuía arrozeiras. Para fazer a semeadura 20 dias antes dos desmoronamentos, realizou um empréstimo de R$ 10 mil.
As plantas estavam com 20 centímetros de altura quando foram soterradas pela areia e pelo barro. A perda foi total. Reinert deixará de colher, no mês de março, 1,3 mil sacos de arroz e de faturar R$ 41,6 mil. Em todo o município, o prejuízo é de R$ 1,3 milhão e atinge 79 famílias.
Além do arrozal, Reinert perdeu o galpão que levou três anos para construir. Diante dos estragos, não tem coragem para voltar ao trabalho:
? Estou há duas semanas em casa. Sei lá se vale a pena consertar ? lamentou o produtor.
Na terça-feira, ele tentou fazer valas no terreno para que a terra comece a secar. Mas teve de interromper o trabalho, pois a máquina, que ainda não terminou de pagar, atolou. Em relação às bananeiras que sobraram, Reinert acha que não tem mais para quem vender. O comprador dos frutos era seu primo, morador do Morro do Baú, que também perdeu tudo.
Reinert avalia que será necessário um ano para que o terreno seque completamente. Seu vizinho Vilton Pasquale, 51 anos, acredita que, depois deste período, o terreno não servirá mais para plantação de arroz.
? Quem sabe a gente consegue plantar banana daqui a uns 18 meses ? disse o agricultor que também perdeu todo seu arrozal.