Relação ruim do governo argentino com seus agricultores pode favorecer o Brasil

Especialistas apontam que linha política adotada por Cristina Kirchner é de perseguição ao campoA reeleição da presidente da Argentina Cristina Kirchner causa expectativa no Brasil, um dos principais parceiros comerciais do país vizinho. Especialistas ligados ao agronegócio acreditam que a linha política adotada durante os últimos quatro anos não deve mudar para o próximo mandato. Notícia ruim para os produtores argentinos, mas positiva para o agronegócio brasileiro.

De acordo com o coordenador do Núcleo de Agronegócios da ESPM, José Luiz Tejon, o resultado da eleição foi bom para o agronegócio brasileiro, que deve se beneficiar com os conflitos entre a presidente Kirchner e os produtores rurais.

? Se eles continuarem a fazer uma perseguição ao campo, não vejo nada de negativo para o agronegócio brasileiro. Se continuar uma política de desvalorização da importância do agronegócio deles em função dos pacotes sociais e dos interesses urbanos, a médio e longo prazo vai piorando a vontade e a segurança dos capitais em fazer investimentos na Argentina. Se continuar uma política errônea, populista, manipuladora, o agronegócio brasileiro como um todo é beneficiado ? aponta Tejon.    

Em 2009, o governo argentino enfrentou uma forte crise com o setor agropecuário, quando retirou subsídios e investiu em pacotes sociais urbanos. Uma medida protecionista também restringiu a entrada de produtos estrangeiros. 

? Foi um pouco de demagogia, para mostrar ao povo argentino que o governo defendia a indústria nacional. Por outro lado, o não cumprimento dos acordos da Organização Mundial do Comércio (OMC), que te permite atrasar em até 60 dias as guias de importação passou de seis meses e em alguns casos a um ano ? disse o professor de Comércio Exterior da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Mário Sacchi.

Um dos momentos mais tensos na relação entre os dois países aconteceu no início do ano quando o governo argentino restringiu a entrada de tratores e colheitadeiras nacionais. Em 2010, entre janeiro e setembro foram exportadas quatro mil unidades. No mesmo período desse ano as vendas caíram 40%. Medida restritiva, que acabou apressando o investimento de empresas brasileiras no país vizinho.

? Nos últimos meses as três principais produtoras de tratores e colheitadeiras do Brasil anunciaram investimentos na Argentina. No total são mais ou menos US$ 350 milhões de investimentos anunciados. Estas empresas vão começar  a produzir na Argentina e exportar para o Brasil. Vai acontecer entre tratores e colheitadeiras o que já ocorre com automóveis e caminhões, uma  produção brasileira vai ser complementada por uma produção argentina, isto vai aumentar a troca entre os dois países ? explica o vice-diretor da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Milton Rego.