A produção nacional prevista pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de pouco mais de cinco milhões de toneladas, quase 13% a menos do que foi colhido no Brasil na safra anterior. Os números ainda podem variar de acordo com o clima até o final da colheita, que encerra em novembro.
No Rio Grande do Sul a área plantada aumentou em média 10%. Em produtividade, a safra está com boas perspectivas e deve ultrapassar os dois milhões de toneladas. Este ano o produtor investiu em trigo de melhor qualidade e agora está preocupado com a comercialização do grão.
? O preço de venda está muito baixo. Pelos custos teria que ser de R$ 28 a R$ 30 para compensar. O preço que está hoje, em torno de R$ 23 e R$ 24, não tem como trabalhar com a cultura do trigo ? afirma o produtor rural, Mauro Dall Belo.
O clima chuvoso não chegou a comprometer a plantação. Dall Belo possui 60 hectares, em Passo Fundo (RS) e 27 foram dedicados ao trigo. A colheita começa daqui a uma semana e a expectativa é de que 50 sacas sejam colhidas por hectare. Apesar da boa produtividade o agricultor está desistindo da cultura.
? Para próxima safra não vou plantar nada de trigo. O valor dele na hora da venda é muito pouco, não compensa ? disse Dall Belo.
Segundo a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro), o que fez os produtores gaúchos apostarem em mais áreas plantadas do cereal, foram os resultados obtidos na safra de milho e soja.
? Essa renda um pouco maior que eles obtiveram levou os produtores a apostar também numa cobertura de solo em vez de colocar aveia. Então isso fez a área de trigo plantada no Rio Grande do Sul elevar-se de 8% a 10% em relação à safra anterior e atingimos mais de 850 mil hectares ? disse o economista da Fecoagro, Tarcísio Minetto.
De acordo com o analista Walter Von Mühlen Filho, a situação do mercado mundial é bem diferente da realidade do ano passado e o trigo brasileiro vai sofrer com a concorrência de outros países.
? Havia uma seca forte na Rússia e no final do ano houve enchentes na Austrália. Então o mercado mundial ficou fortemente demandador de trigo, este ano temos um mercado bem diferente, com ofertas firmes da zona do mar negro, com preços extremamente agressivos. Vai precisar então que o governo compareça com programas de sustentação de comercialização do trigo ? explica Mühlen Filho.