A empresa onde o agrônomo André Hokari trabalha são quatro hectares de tomates plantados em estufas, 1% do total da produção. O cultivo protegido ajuda a reduzir riscos para a produção. Ele supervisiona o trabalho e conta que a aplicação de defensivos chega a ser até 80% menor do que na lavoura em campo aberto. E ainda são usadas alternativas como controle biológico de pragas. André considera os resultados positivos, mas acredita que poderiam existir mais alternativas para os defensivos convencionais.
? É pouco, muito pouco. Dá pra contar nos dedos os produtos registrados dentro das normas do Ministério da Agricultura ? conta.
Quando se fala em produção de alimentos, o que se discute atualmente não é apenas a necessidade de produzir, mas também produzir com mais qualidade e mais segurança, tanto para quem lida com a lavoura quanto para quem vai consumir os produtos. É com base nisso que ganha força a discussão sobre novas alternativas de manejo e também de defesa da lavoura contra pragas e doenças.
Uma dessas opções seria o defensivo a base de óleos essenciais. Essas substâncias extraídas de plantas tem uso bastante conhecido em setores como perfumaria e indústria de alimentos, mas são utilizadas também na agricultura, como uma opção de menor risco para o alimento e para o ambiente.
Diretor de uma empresa da Espanha que desenvolve produtos naturais de nutrição e defesa da lavoura, David Bernad avalia que o defensivo a base de óleo essencial pode ter eficácia semelhante a dos convencionais e acredita que o que hoje é visto como opção.
? O potencial está em todas a culturas. O desenvolvimento atual está mais focado em produtos de agricultura intensiva do que em grãos ou agriculturas extensivas. Os produtos, atualmente, estão mais indicados para produtos tipo hortaliças, frutas. Esses são os cultivos para que, principalmente, se desenvolve esses produtos ? conta.
Segundo David, o uso de defensivos a base de óleos essenciais é uma realidade na Europa e nos Estados Unidos tanto na agricultura orgânica quanto na convencional. No Brasil o foco ainda é o cultivo orgânico. A Instrução Normativa 46 do Ministério da Agricultura serve como regra geral mas ainda falta uma regulamentação específica para este tipo de produto.
? O que falta é uma avaliação destes produtos, que, pela complexidade, é difícil fazer da mesma forma como se faz nos convencionais. Mas pensamos que as autoridades brasileiras estão trabalhando muito positivamente esses produtos no mercado para que os agricultores possam fazer isso em um prazo muito curto de tempo ? aponta.
O defensivo de óleo essencial vem atraindo também quem produz de forma convencional. Para o agrônomo André a experiência internacional com esse tipo de produto poderia ser mais bem aproveitada no Brasil.
? Teria que ter uma agilidade do Ministério da Agricultura na parte de registro. Tem muitos produtos que já são utilizados na Europa ou mesmo na Ásia. Então, eu acho que o Ministério da Agricultura deveria aproveitar isso e já fazer esse registro de forma mais ágil ? conclui.