Falta de milho provoca prejuízo de até R$ 130 por animal em Santa Catarina

Criadores tentam sair do dilema entre a falta de milho para a alimentação dos animais e a necessidade de faturar 

O milho, raro e caro, já virou artigo de luxo na pecuária brasileira. Diante desta crise, o estado de Santa Catarina sofre ainda mais com a escassez e altos preços do produto. O estado tem o maior plantel de suínos do país e não produz a quantidade que precisa do grão e já tem criador amargando prejuízo de até R$ 130 por animal.

Nos últimos 11 anos, a área dedicada ao milho caiu no estado, passando de 800 mil hectares em 2005 para 250 mil no ano passado e o volume colhido passou de 4 milhões de toneladas para 2,5 milhões de toneladas. Se milho, o preço do produto está nas alturas e produtores já chegaram a pagar R$ 60 reais pela saca.

Para o economista Marcio da Paixão Rodrigues, que é especialista em economia rural, três fatores contribuem diretamente para esta crise. “Devido à política nacional, a crise econômica que está instaurada no país, que vem reduzindo o poder aquisitivo do consumidor, e por consequência reduzindo também o consumo de carnes. Outro motivo é o aquecimento do mercado e da produção interna e outro fator que é bem agravante é o aumento do custo de produção de carnes tanto do suíno como do frango”, avaliou.

Na granja é fácil perceber o mau momento que o produtor enfrenta. Na propriedade do suinocultor Jacob Biondo, que há um ano estava lotada de animais, é possível notar a redução de 35% do plantel, o que acarreta em um prejuízo de mais de R$ 400 mil por mês. “Por semana, são na faixa de 300 a 350 animais a menos, porque nós vendíamos na faixa de mil animais por semana. Hoje, nós estamos com 600 a 650 animais terminados por semana”, disse Biondo.

O desânimo que envolve a atividade preocupa. Segundo o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivânio de Lorenzi, a tendência é que o preço suba no mercado para compensar a produção que já caiu 3% desde março. “A gente então acredita que vai subir o preço, agora é muito complicado realmente porque o estado se preparou pra ser um grande exportador e é o único estado da federação livre de febre aftosa sem vacinação e também livre de peste suína clássica. E, agora, perder esses produtores realmente é muito triste, mas a gente espera que haja uma reversão no mercado”, disse.

Como se não bastassem os altos custos do produtor catarinense, que desembolsa em média R$ 60 pela saca de milho, a indústria agrava o cenário com pagamentos atrasados em até 40 dias e preços que não compensam a atividade.

Avicultura

O setor de aves também enfrenta problemas. Em Santa Catarina, toda a produção é integrada à indústria, por isso o avicultor não sofre com o aumento no preço do milho. Mas a dificuldade está justamente no recebimento de ração, já que em alguns municípios as aves chegam a morrer pela falta de alimento.

Foi o que aconteceu em um aviário de Lindóia, município da região oeste de Santa Catarina. O vice-presidente do Sindicato dos Criadores de Aves do estado, Eldir Tauffer, relata que casos como este têm aumentado. Segundo ele, algumas integradoras estão adiando o alojamento nos aviários de 15 para 30 dias e, assim como acontece na cadeia produtiva de suínos, também não estão honrando com os pagamentos.

“Não tem dinheiro pra milho, entrega os frangos e não recebe.O prejuízo é incalculável justamente pra aqueles que têm prestação de aviário pra pagar, contam com aquele dinheiro, e vai buscar aonde se o ramo dele é aquele? Vira uma bola de neve  e não vai ser fácil achar a saída dela”, disse.