Produtores do Rio Grande do Sul investem em sistemas e técnicas para evitar prejuízos com a estiagem

Investindo em cisternas, poços artesianos, pivôs ou irrigação, agricultores e pecuaristas gaúchos conseguem manter produção apesar da falta de chuvasEnquanto a estiagem afeta lavouras e animais no interior do Rio Grande do Sul, muitos produtores gaúchos vivem dias tranquilos. O motivo é o planejamento. Ao investir em prevenção, eles escaparam do risco de prejuízo com sistemas e técnicas que garantem boa produção e lucro, mesmo sem chuva.

No ciclo atual, porém, quem não se preparou tem pouco a fazer. É o que aponta o boletim de recomendações do Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do RS (Copaaergs). Entre as orientações para amenizar as perdas, estão buscar assistência técnica, racionalizar o uso de água e irrigar só quando necessário.

– Como a estiagem é cíclica, é preciso planejar a propriedade e investir na prevenção do problema – observa Bernadete Radin, diretora do Centro Estadual de Meteorologia e chefe da pesquisa da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária.

Cisterna

Há três anos, o produtor Milton Renato Gehlen, cansado de ter de bombear água do vizinho nos períodos de estiagem, financiou por R$ 17 mil a construção de uma cisterna, e transformou sua propriedade de 14,5 hectares em Três Passos, no noroeste do Estado.

A cisterna tem capacidade para armazenar 430 mil litros, o suficiente para atender à demanda de nove mil litros diários consumidos, em média, para a criação de 400 suínos e 40 cabeças de gado. Segundo Gehlen, o sistema permite suportar a falta de chuva por até 60 dias sem causar transtorno.

Diante dos bons resultados, o produtor vai investir R$ 10 mil em outra cisterna, aumentando a capacidade de armazenamento para um milhão de litros.

– Só rezar para chover não resolve. É preciso planejar para crescer sem riscos – alerta.

Poço artesiano

Um poço artesiano comunitário construído há uma década no distrito de São Roque modificou a propriedade de Paulo Luiz Rosso em Passo Fundo, no norte do Estado. Com dois aviários ativos, ele precisa de 10 mil litros de água diários para a criação de 36 mil aves em ciclos de 40 a 50 dias.

– A garantia de água me fez apostar nas aves – afirma.

Aberto em parceria com os governos municipal e estadual, o poço artesiano amenizou anos de sofrimento com a estiagem. Na época, cada produtor investiu R$ 5 mil para estruturar a propriedade. Diante da garantia de água, há outros produtores interessados em implantar aviários, o que já mobiliza a comunidade para construir mais um poço.

– Produzir sem água é inviável. Com o poço, a estiagem não incomoda mais – garante Rosso.

Pivôs

Tradicionalmente castigada pela seca, Bagé, na Campanha, coleciona casos de plantações e rebanhos afetadas pela falta de água. Na cabanha da Maya, porém, a situação é diferente desde outubro. Depois de investir cerca de R$ 1 milhão na colocação de oito pivôs – que irrigam as plantações de forrageiras para alimentar o rebanho -, a comida para o verão e boa parte de 2012 está garantida.

Segundo o administrador da propriedade, Chico Vieira, cerca de cem hectares de forrageiras como trevo, azevém e cornichão estão sendo aguados. Na propriedade, são criados exemplares jersey, holandês, aberdeen angus, ovelhas crioulas e cabras.

A água usada no pivô vem de barragens e açudes da fazenda, com níveis bons devido à chuva de setembro. O milho para silagem deve ser aguado entre dezembro e janeiro, dobrando a produtividade da planta. Até o início de 2012, a meta é ter 14 mil fardos de feno prontos.

– O investimento valeu a pena, porque garante a alimentação para o gado independente do clima – observa o administrador.

Irrigação

Um prejuízo de R$ 300 mil após a estiagem de 2008, que devastou a maior parte da lavoura de milho, foi a senha para que o produtor Osvaldo Facco investisse em irrigação em Fortaleza dos Valos, no noroeste do Estado. Em 2009, gastou R$ 140 mil para irrigar 90 hectares e viu a produção de milho de 42 sacas por hectare quase triplicar.

– Além de ampliar o número de sacas colhidas, os pivôs ainda previnem das grandes quebras – conta o produtor.

Nos dois anos seguintes, Facco investiu R$ 480 mil e ampliou a área irrigada, mas considera a irrigação ainda não ideal.

-Espero colher até 180 sacas por hectare do milho irrigado.

Diante do bom resultado obtido, Facco pretende implantar mais um pivô em 2012.