Em São Paulo, os produtores rurais não estão nada animados.
– A gente vinha fazendo um sequência de renovação nos pomares, mas de uns três anos para cá, só estou arrancando. Não estou mais plantando – diz o citricultor Renato Carlini.
Pelo menos dois fatores estão desestimulando a produção de laranja no Estado de SP: o preço e as doenças nas plantas, principalmente o greening. Com o melhor rendimento em outras culturas, quem pode, muda. Além de grãos, Carlini deve substituir parte dos laranjais por mandioca.
– Não estamos abandonando o pomar, mas estamos reduzindo investimentos, justamente pra sobrar uma margem no bolso da gente – explica o citricultor.
A produção brasileira de laranjas chegou perto das 400 mil caixas este ano. Entretanto, em renda o produtor ganhou pouco, diz o presidente do Conselho Deliberativo da Associtrus, uma das associações dos produtores. O ano até começou com expectativa boa, depois que foi anunciada pelo Governo Federal a Linha Especial de Crédito (LEC) para a citricultura. O mecanismo previa estocagem de suco e estabelecia um preço mínimo ao produtor: R$ 10,50.
– Este ano nós temos desde o preço mínimo de R$ 10 até produtores que conseguem R$ 15 reais. Então há sempre esta discrepância de preços, e é uma discrepância grande que faz a diferença no fluxo de caixa, na eficiência do produtor – diz a pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) Margareth Boteon.
O preço mínimo não foi o suficiente pra os produtores, diz presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), Renato Queiroz.
– Hoje R$ 17 seria o preço justo. O preço de pelo menos o custo de produção dos produtores da Associtrus – avalia Queiroz.
– A LEC pode ter possibilitado um alívio pra você não agregar mais endividamento. Agora que ele é um preço compatível para aumento de investimentos, isso não é – diz Margareth.
A avaliação da pesquisadora do Cepea, que faz acompanhamento de preços, reforça a necessidade de um equilíbrio nas negociações. A criação do Consecitrus, tão discutida no setor promete ser a solução. Segundo a indústria, esta solução está mais próxima agora.
– A gente espera que até a safra do ano que vem, quando começar maio de 2012, a gente já tenha uma instituição com estatuto, com funcionamento formal, que vai fazer justamente este trabalho de definição dos preços de referência para as negociações livres e voluntárias da laranja – completa o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Christian Lohbauer.