Estiagem gera perdas de R$ 2,2 bilhões na agricultura do Rio Grande do Sul, mostra levantamento da Emater

Mesmo com previsão de chuva para os próximos dias no Estado, perdas na safra das culturas de verão são consideradas irreversíveisAs perdas acumuladas na agricultura em razão da seca que atinge o Rio Grande do Sul já chegam a R$ 2,2 bilhões, conforme levantamento da Emater-RS divulgado nesta quinta, dia 12. No levantamento anterior, divulgado no dia 5 de janeiro, os prejuízos diretos nas lavouras eram contabilizados em R$ 877,9 milhões.

Até agora, a cultura mais afetada é a de milho, com 37,5% de redução na produção na comparação com a estimativa inicial. Os danos causados pela falta de chuva chegaram também às lavouras de soja, com uma queda estimada em 15%. Os reflexos da seca na agricultura gaúcha foram quantificados pelos técnicos da Emater no período de 5 a 9 de janeiro, nas lavouras de milho, feijão, soja e arroz.

– Essas perdas podem ser ainda maiores, já que em algumas regiões ainda não choveu até hoje – disse o presidente interino da Emater, Gervásio Paulus, acrescentando que no levantamento não foram contabilizadas os danos na produção animal, como na bacia leiteira.

Mesmo com a chuva prevista para os próximos dias, as perdas na safra das culturas de verão são consideradas irreversíveis.

— Se chover, poderemos amenizar o impacto dos prejuízos. Mas o que foi perdido não há mais como recuperar — disse o secretário estadual de Desenvolvimento Rural, Ivar Pavan.

O secretário de Agricultura, Luiz Fernando Mainardi, ressalta a questão do milho e aponta que serão necessárias ações para reverter o quadro.

– Vai faltar milho. No mínimo, dois milhões de toneladas vão faltar no Rio Grande do Sul e nós não podemos prescindir dessa quantidade. Teremos que trazer e isso terá um impacto no custo de produção e na transferência de ICMS para outros Estados. Nós queremos saber como trabalhar melhor este tema em conjunto com as indústrias de ração, de frango, suínos, leite e com o próprio setor do milho no Estado – diz.

A preocupação atinge também os setores de aves e suínos, que têm no milho o principal ingrediente da ração dos animais. Para o presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul, Valdecir Folador, a solução é buscar alternativas.

– O milho hoje representa 70% da composição da ração dos suínos. Há outros substitutos, como trigo, arroz, farelo de trigo. Temos muitos produtores que estão utilizando o próprio trigo na formulação das rações, com um percentual de 20% a 30%. Então, isso acaba ajudando a diminuir um pouco o custo e também tendo à disposição a matéria-prima para as rações, porque outra dificuldade é o acesso ao milho, em função desta grande quebra de safra – aponta.

Paulus lembra os dados do levantamento anterior, que já reforçavam os prejuízos em relação a diversas culturas.

– O que primeiro nos chamou a atenção foram as perdas constatadas na cultura do arroz, que, embora sejam pequenas ainda, são muito significativas pela importância e pela área cultivada, que é superior a um milhão de hectares. Segundo, também é o aumento considerável na área de soja – afirma.

Pavan salienta que o governo do Estado busca auxílio do governo federal para amenizar os prejuízos.

– Já disponibilizamos para os agricultores 70 mil sacas de sementes de milho para o plantio da safrinha. Obviamente, desde que chova, senão não tem porque plantar de novo. Estamos em tratativas com o governo federal para buscar milho no Paraná e em Mato Grosso, que colheu uma boa safra de milho, para ser subsidiado o frete e levado para o Rio Grande do Sul a preços compatíveis. O preço de mercado hoje está muito elevado para os consumidores daqui, porque perderam a lavoura. O ministério estuda a situação e seguramente teremos aqui nos próximos dias uma resposta disso, do governo federal garantindo o abastecimento deste insumo, o milho, para alimentação animal. Para fazer a transição deste período, até que a seca se encerre e até que os agricultores possam plantar e colher a safrinha e aí chegar à próxima safra – explica.

Estimativas de produção em cada cultura:

Milho

Estimativa atual: 3,3 milhões de toneladas
Redução de 37,5%
Prejuízo de R$ 863 milhões

Regiões mais afetadas: Ijuí (-68,93%), Passo Fundo (-56,11%) e Lajeado (-35,32%)

Soja

Estimativa atual: 8,75 milhões de toneladas
Redução de 14,99%
Prejuízo de R$ 1,1 bilhão

Regiões mais afetadas: Santa Maria (-22,18%), Ijuí (-19,25%) e Santa Rosa (-17,50%)

Arroz

Estimativa atual: 7,6 milhões de toneladas
Redução de 6,26%
Prejuízo de R$ 253,8 milhões

Região mais afetada: Bagé (-14,34%)