Produtores arriscam replantio de soja após precipitações no Rio Grande do Sul

Parte dos agricultores atingidos pela seca resolveram cultivar grão sem garantias financeirasO retorno da chuva a partir da segunda quinzena de janeiro levou agricultores das regiões mais atingidas pela seca no Rio Grande do Sul a uma tentativa arriscada e fora do normal. Como as lavouras não vingaram, apelaram para o replantio e plantio fora de época da soja.

É o caso do engenheiro agronômo Ricardo Brum, que terminou nessa quinta, dia 26, o cultivo em 60 dos 300 hectares em Cruz Alta, no Noroeste. O calendário agrícola para a soja indica plantio até 31 de dezembro no Estado.

A estratégia para tentar recuperar prejuízos foi detectada pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul) no levantamento de perdas divulgado na quinta. Na Regional 3, que engloba os município de Cruz Alta, Tupanciretã e Joia, estão sendo cultivados de novo 12,4 mil hectares.

Como o período é fora do recomendado oficialmente, não há financiamento ou seguro para as lavouras.

— É um tiro na lua, mas é uma tentativa de recuperar alguma coisa para quem plantou no período certo e, pela seca, teve uma germinação em torno de 15% a 20% dos pés — diz o coordenador da Regional 3 da Farsul, Eduardo Buzzatti.

Na Regional 10, que abrange cidades como Santa Maria e São Sepé, o replantio soma 11 mil hectares. Em municípios do Vale do Rio Pardo, também foi verificado um alto percentual de replantio de milho.

O gerente técnico da Emater, Dulphe Pinheiro Machado Neto, lembra que, apesar de não ser recomendado, há precedentes de plantio de soja até o fim de janeiro no Estado.

— Pode até dar certo, não é normal e é um risco muito grande — reforça, lembrando que prognósticos indicam pouca chuva nos próximos meses.

A precipitação também conseguiu frear o avanço das perdas nas lavouras. Levantamento da Farsul mostra quebra de 34% na soja e de 48,35% no milho, inferiores aos apresentados na semana passada.

O da Emater, com intervalo maior, de 14 dias, aponta que a escalada dos estragos perdeu velocidade. Para o presidente da entidade, Lino de David, a perda no milho hoje, de 41,89%, não tem volta, mas a soja ainda teria chance de baixar o percentual de 22,33%, caso voltasse a chover.

Atingidos pela seca vão poder renegociar crédito

O Conselho Monetário Nacional (CMN) autorizou nesta quinta que agricultores atingidos pela seca na Região Sul renegociem as operações de crédito de custeio, além de ampliar os prazos para quitação de parcelas de investimentos. Os beneficiados com as regras são produtores de milho, soja e feijão.

Pela medida, os produtores com parcelas vencendo entre 1º de janeiro e 30 de julho de 2011 nos municípios com situação de emergência ou calamidade pública, terão o prazo de pagamento postergado para 31 de julho de 2012. A regra não se aplica a quem tinha seguro agrícola.