FAO pede consenso mundial sobre insegurança alimentar

Jaques Diouf defendeu investimentos em agricultura para aumentar a produção alimentíciaO diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Jaques Diouf, afirmou nesta segunda, dia 26, que, apesar da queda dos preços, a crise alimentar não chegou ao fim e ainda pode se agravar. Ele pediu um consenso mundial para conseguir a erradicação da fome.

Um total de 95 países, junto a representantes de organismos internacionais e de ONGs participam, até terça, dia 27, em Madri, da reunião de alto escalão da ONU sobre Segurança Alimentar para Todos, que aborda a luta contra a fome nas metas do milênio.

Convocada a pedido do presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, a conferência fará um programa para garantir o cumprimento dos compromissos adquiridos na cúpula da FAO ocorrida em Roma, em junho do ano passado.

Na reunião, inaugurada pelo diretor-geral da FAO, Jaques Diouf, e pelo ministro de Relações Exteriores da Espanha, Miguel Ángel Moratinos, também discursou, através de um vídeo gravado para a ocasião, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, que ressaltou que “aliviar a fome no mundo” é uma prioridade do novo presidente dos EUA, Barack Obama.

Hillary assinalou que a insegurança alimentar e os altos preços representam uma “ameaça” à prosperidade e à segurança nos países em vias de desenvolvimento, nos quais “milhões de pessoas têm o risco de voltar à pobreza, pondo em risco o alcance das metas do milênio de reduzir em 50% a pobreza e a fome até 2015”.

Em seu discurso, Moratinos advertiu que o agravamento da crise alimentar é “uma ameaça séria para a estabilidade mundial” e que ressaltou a urgência de atuar de forma “responsável”. Reiterou o compromisso do governo espanhol de destinar 0,7% do PIB em ajuda ao desenvolvimento em 2012 e solicitou aos países ricos que também assumam este desafio como obrigatório.

O senegalês Jaques Diouf disse que o maior desafio consiste não só em assegurar uma alimentação adequada aos 963 milhões de famintos do mundo, mas também em “conseguir alimentos, em 2050, para nove bilhões de pessoas”. Ele destacou que será necessário duplicar a produção alimentícia mundial com investimentos na agricultura. Diouf classificou de “especialmente grave” a situação de insegurança alimentar e a considerou a “crônica de uma tragédia anunciada”, antes de ressaltar que a crise financeira mundial “não facilita a tarefa”.

Apesar de ver “indícios encorajadores” em medidas como a ajuda de US$ 1,299 bilhões entre 2008 e 2010 da União Europeia para o desenvolvimento da agricultura em países pobres ou o aumento do crédito ao setor agrícola pelo Banco Mundial, Diouf disse que os meios financeiros “ainda ficam muito longe de estar à altura das necessidades”.

Após afirmar que os dados mais recentes indicam que a situação atual é “mais inquietante” do que a de 1996, Diouf apontou que as medidas que devem ser tomadas em curto, médio e longo prazos para enfrentar a crise alimentar têm duas frentes: resolver de modo imediato os problemas alimentares urgentes e promover, a longo prazo, a produção e a produtividade agrícola.

Coincidindo com este encontro, Oxfam, Via Campesina e Amigos da Terra, entre outras ONGs, concentraram-se nas portas do Palácio de Congressos de Madri para pedir que a reunião “não se transforme em uma farsa”.