Vinícolas brasileiras mantêm pedido de salvaguarda mesmo com boicote de restaurantes ao produto nacional

Ibravin assegurou que ação é legal e que vai pressionar o governo federalA repercussão negativa do pedido de salvaguarda feito ao governo por órgãos do setor vinícola brasileiro não diminuiu o empenho do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). Para a entidade, esta não é uma medida protecionista, é uma ação legal, prevista em lei.

– Esta salvaguarda não é um fechamento total das importações, como alguns estão pregando, dizendo que não irão mais encontrar rótulos importados no mercado. O que se faz numa medida de salvaguarda é um controle do crescimento das importações, ou seja, é um controle do futuro crescimento destas importações – explica o diretor técnico do instituto, Leocir Bottega.

A polêmica começou pela internet. A chef de cozinha Roberta Sudbrack, dona de um restaurante no Rio de Janeiro, usou sua página em uma rede social para avisar que havia retirado do menu do estabelecimento os produtos das vinícolas que apoiam a salvaguarda. A medida repercutiu em outros sites e foi ganhando apoio de alguns dos chefs mais famosos do país.

No restaurante paulistano Tasca da Esquina, agora há somente vinhos importados na adega. Todas as garrafas nacionais foram suprimidas como forma de protesto. A gerência garante que os rótulos brasileiros ficarão de fora enquanto os produtores do país insistirem com o pedido de salvaguarda contra os importados.

– O Brasil vem numa crescente, porque as pessoas têm se interessado pelo mundo do vinho, e agora eu não sei o que vai acontecer se a gente não tiver o acesso à bebida. Há características diferentes. Cada uva tem a sua particularidade, cada país tem a sua particularidade, o seu solo, o clima, tudo isso muda. Então, assim, a gente vai se privar. E isso é o que me deixa mais triste. É o brasileiro empobrecer culturalmente – argumenta a gerente Erica Maiera.

Pelos números do Ibravin, em 2001, a comercialização do produto nacional era quase igual a da bebida trazida de fora do país: 25 milhões de litros nacionais e 30 milhões de litros estrangeiros. No ano passado, o vinho importado foi responsável por quase 80% das vendas. Agora, o governo tem seis meses para analisar o pedido de proteção ao produto nacional.