A cana-de-açúcar é a cultura que mais gera resíduos no país. Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2009, os engenhos produziram 201 milhões de toneladas em torta de filtro e bagaço. No processamento da planta, o montante ganha o reforço de mais de 604 milhões de metros cúbicos de vinhaça, um subproduto considerado cem vezes mais poluente do que o esgoto doméstico. Cada litro de álcool pode resultar em até 18 litros de vinhaça.
Atualmente, o reaproveitamento desses resíduos está focado nos biofertilizantes. Mesmo assim, ambientalistas contestam a utlização da vinhaça no solo, pois, em excesso, pode contaminar água, por conta da concentração de substâncias como fosfato e nitrato.
Apesar disso, o consultor em sustentabilidade Amaury Cezar Macedo afirma que 60% da produção de cana atende a requisitos sustentáveis. O profissional indica a mecanização da colheita como principal fator de estímulo ao aproveitamento de resíduos.
– Com o advento da colheita mecânica tivemos que aprender a manejar a palhada. Hoje vemos como uma aliada no aumento da material orgânica e na retenção da umidade no solo – explica.
Comum no Brasil desde a década de 1960, a queima da palha da cana-de-açúcar, que antecede o processo de colheita manual, é uma das práticas mais nocivas ao ambiente. No entanto, em 2007, a Unica e o governo estadual de São Paulo assinaram o Protocolo Agrombiental do Setor Sucroalcooleiro, no qual o setor se compromete a eliminar a técnica, em áreas mecanizáveis, até 2014, e em não-mecanizáveis, até 2017.
De acordo com o chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, Celso Vainer Manzatto, a rotação do cultivo da cana com leguminosas e uso de sorgo sacarino na fabricação de biocombustíveis são iniciativas que contribuem para a diminuição do impacto ambiental, pois ampliam o período de moagem.
– Temos desafios, não problemas – acredita Manzatto.
Para ele, em breve haverá planos mais definidos de aproveitamento dos resíduos, já que grandes grupos, como a Petrobrás, investem em pesquisa tecnológica.
O Ipea, em seu relatório, também sinaliza uma possível saída para o equilíbrio ecológico. De acordo com o instituto, se todos os resíduos secos da produção da agroindústria da cana no Brasil fossem utilizados para a geração de energia, a potência instalada seria de 16.464 MW por ano, superior ao da usina de Itaipu. “Para viabilizar uma maior disponibilização dessa energia para a rede elétrica, entretanto, será necessário vencer várias barreiras de ordem técnica, econômica e regulatória, sendo necessários mais incentivos econômicos para motivar os investimentos do setor privado nessa área”, aponta o levantamento.
>>> Esta é a quarta matéria da série especial Resíduos Agropecuários: Sustentabilidade e Renda, que passará a ser publicada todos os sábados no RuralBR até meados de junho. As reportagens mostrarão como o reaproveitamento movimenta a economia brasileira e que iniciativas estão sendo realizadas por agricultores e pecuaristas do país.