Interconf: discussão sobre a relação entre indústria e criadores é uma constante

Divergências na cadeia produtiva da carne serão discutidas durante a Conferência Internacional dos Confinadores, que acontece em setembro em GoiásO boi é a matéria-prima da indústria. De um lado, os frigoríficos precisam do produto e, portanto, têm interesse no confinamento, que traz maior produtividade em menos tempo. De outro, os confinadores precisam da indústria para vender o gado. Apesar de um suprir a necessidade do outro, a discussão entre pecuaristas e indústrias é constante, uma vez que os altos custos de produção e os baixos preços recebidos pela indústria são reclamações constantes dos criadores. Todas essas questões serão disc

Uma fazenda em São Paulo tem 42 anos e há 25 pratica o confinamento e o semi-confinamento de gado. Deste modo, os bezerros desmamam nos meses de maio e agosto e já são selecionados para irem para o cocho, no ano seguinte, onde deverão permanecer por até 100 dias. Existe um plano de rotação para o confinamento e, neste ano, serão cerca de duas mil cabeças confinadas. Aos 20 meses, o boi já está pronto para o abate a um custo médio de R$ 74,00 a arroba.

De acordo com o pecuarista Rodrigo Odilon, a técnica foi a forma encontrada pelos produtores paulistas para enfrentar um problema desta região do país.

– Em São Paulo, onde o preço da terra é mais alto que em outros Estados, como Mato Grosso, Goiás, Tocantins, não é possível criar o boi solto. À medida que a zona urbana cresce, a zona do boi se afasta para as zonas rurais, mais distantes, o que incentiva a prática do confinamento na região – explica.

De acordo com os pecuaristas, com o alto custo de produção e o preço da arroba baixo, é preciso uma equação muito acertada para não ter prejuízo. Além disso, os frigoríficos, que também confinam, acabam representando concorrência aos produtores.

– Os frigoríficos querem controlar, eles tem o mercado interno e o mercado exportador, e querem estabelecer um preço do boi acabado, de boi gordo, muito baixo, inferior a R$ 100,00, enquanto que os insumos e o custo de mão-de-obra crescem todo ano de 5% a 10%. Isso traz um problema financeiro para o produtor – argumenta.

Para o consultor de mercado Elio Micheloni, a lei da oferta e da procura é um dos fatores que interferem no preço do boi. Segundo o especialista, a maior preocupação de quem vai confinar é em relação à concentração de oferta dentro de um curto período.

– Quando o meu boi estiver pronto, o do vizinho também vai estar, e então você passa a ter uma concentração de oferta muito grande em um determinado espaço de tempo. Isso é uma pressão negativa no mercado e, por isso, nós induzimos para que haja uma trava de preço porque a atividade demanda muito investimento – explica o consultor.

Já o consultor José Vicente Ferraz alega que o conflito com a indústria acontece com o pecuarista tradicional, que ainda confina apenas como forma de driblar a temporada de inverno. Mesmo assim, ele acredita que esse cenário esteja com os dias contados.

– Vai continuar uma situação incerta, mas muito mais administrada, mais inteligente, onde serão buscadas parcerias e a divisão de riscos e lucros. O mercado está mudando, não apenas no Brasil, mas principalmente lá fora, em que isso vai ser uma necessidade. Quando é necessário, as coisas acontecem – enfatiza.

Na opinião de Micheloni, a própria indústria tem interesse que haja o confinamento de modo a suprir a demanda. O especialista salienta que, no entanto, quem está confinando quer ter retorno e garantias, o que leva à necessidade de contratos que sejam bons para ambas as partes, o que deve aproximar as cadeias.