Por outro lado, os três Estados do Sul, seriamente afetados pela estiagem no verão, registram queda no período de cerca de 10%.
– Talvez estejamos no melhor cenário de muitos anos – diz Carlito Eckert, diretor comercial da Massey Ferguson, sobre o estímulo ao investimento permitido pela valorização das commodities agrícolas. – Os três últimos anos foram de renda muito boa do produtor, mas o próximo ano-safra deve ser ainda melhor.
A retomada do investimento por parte dos grandes produtores vem em boa hora, pois o resultado das vendas no primeiro semestre foi negativo para a indústria de máquinas, com queda de 3,9% ante o mesmo período de 2011. Para este ano, a expectativa é repetir o desempenho do ano passado, com venda de 65 mil máquinas, sendo 52 mil tratores e cinco mil colheitadeiras.
Milton Rego, vice-presidente da Anfavea, diz que a retomada do investimento ocorre sobretudo nas regiões Centro-Oeste e Mapitoba (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), não por acaso, onde estão os grandes produtores de soja, que investem na compra de tratores de maior potência.
Carlito Eckert, da Massey Ferguson, calcula que os grandes tratores representam 3% do mercado e podem responder por 5% a 8% das vendas nos próximos três anos. De olho na expansão deste mercado, a Massey Ferguson lançou pela primeira vez tratores de 320 cavalos (cv) e 370 cv. Já a Case IH também aumentou a potência de suas máquinas com uma série de 190 cv a 220 cv. O mesmo aconteceu com a Valtra. Já a participação dos tratores médios no desempenho das vendas, hoje de 70%, parece estar acomodada, segundo Rego.
Eckert acrescenta que, além de priorizar a compra de máquinas de maior potência, o agricultor também investe no maior uso de tecnologia para aumentar a produtividade.
– É uma tendência desde a compra das sementes até os equipamentos.
Segundo Luiz Feijó, diretor comercial da New Holland, o investimento vem mudando com as transformações no campo.
– Antes o produtor investia na ampliação da área plantada. Como hoje o preço da terra aumentou muito, investe-se em produtividade. Há uma mudança de tendência para equipamentos maiores, que reduzem os gastos com mão-de-obra e aumentam a produtividade.
Os dados da Anfavea mostram que existe bastante espaço para renovação do parque nacional de máquinas agrícolas. Atualmente a idade média das colheitadeiras é de sete a oito anos, enquanto os tratores têm, em média, 11 a 12 anos. No levantamento mais recente do setor, feito em 2010, apenas 24% da frota de tratores tinha até 6 anos, sendo que 35% acima de 15 anos. No Brasil, uma colheitadeira perde, em média, 4% dos grãos.
– Uma colheitadeira nova tem perda de menos de 0,5% da produção. A máquina com mais de dez anos deixa no campo de 5% a 7% dos grãos – explica Milton Rego.
Saturação
Milton Rego observa que, após quatro anos de estímulo às vendas por meio de programas oficiais, como o Mais Alimentos, do governo federal, o Pró-Trator, de São Paulo, e o Trator Solidário, do Paraná, o segmento de máquinas pequenas está chegando perto da saturação. Segundo ele, em 2009, primeiro ano dos incentivos, foram vendidos 20 mil tratores para a agricultura familiar. Nos anos seguintes o número foi caindo até chegar a seis mil nos últimos 12 meses.
Ele diz que outro fator limitante é que novos investimentos por parte dos médios e pequenos produtores esbarram na dificuldade de acesso ao crédito. O executivo da Anfavea enfatiza haver recursos, mas a liberação pelas instituições bancárias é mais restrita, porque há maior controle na concessão de crédito a agricultores já endividados. O PSI, programa que vigora desde julho de 2009 com recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tem sustentado cerca de 80% a 90% das vendas do setor.
– O PSI continua sendo o grande fator de compra dos tratores no País – diz Paulo Beraldi, diretor comercial da Valtra. Segundo ele, o programa trouxe estabilidade, pois o produtor consegue se planejar. Em relação à agricultura empresarial, ele calcula que os recursos oficiais, com taxas de juros equalizadas pelo Tesouro, devem representar 50% do crédito utilizado na compra das máquinas. O restante é coberto por recursos próprios e operações de venda antecipada da safra às tradings, entre outros mecanismos.
Na opinião de César di Luca, diretor comercial da Case IH, o fato de o governo ter uniformizado os juros do PSI em 5,5% para todos os tipos de produtores incentivou as empresas a aumentar e até mesmo antecipar seus investimentos no parque industrial.