— No momento, o Banco Central deve continuar com o processo de redução dos juros, porque está preocupado em fazer a economia pegar no tranco. Mas, com uma taxa acima de 1% e a previsão de que a alta no atacado alcance o consumidor, a inflação não pode ser descuidada. Não acredito que a política monetária será alterada, mas os índices de inflação podem provocar uma reavaliação do cenário pelo governo — afirma o coordenador de Análises Econômicas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Salomão Quadros.
Na segunda prévia do IGP-M de agosto, o destaque foi o avanço do preço do milho, de 20,10%, ante 1,55% em julho. O preço do produto agrícola disparou quando o da soja começou a desacelerar. A variação da soja foi de 10,43% ante 11,04% no mês anterior. Ainda assim, a inflação da soja se mantém em um patamar elevado e continua como uma das principais influências do indicador, como em meses anteriores.
A alta dos preços do milho e da soja é provocada pela quebra de safra dos Estados Unidos, que encareceu as commodities no mercado internacional. Em consequência do encarecimento dos grãos, subiram os preços no atacado de matérias-primas para a indústria. O farelo de soja está 17,53% mais caro, ante 14,43% do mês anterior, e o óleo de soja, 2,66%, ante -0,14% em julho.
Os preços das carnes suínas e das aves, que consomem rações com milho e soja e são utilizadas como matéria-prima da indústria alimentícia, avançaram 20,12% e 6,81%, respectivamente. Enquanto isso, o trigo, substituto da soja, subiu 6,20%.
— Alguma repercussão terá a alta dos agropecuários para o varejo nos próximos meses. O contraponto será a inflação das carnes bovinas, que está desacelerando — afirmou Quadros.
O preço dos bovinos caiu 1,27%, ante queda de 0,03% em julho, devido a uma oferta do produto superior à demanda. A perspectiva é de que as altas no atacado alcancem o varejo nos próximos meses. Por enquanto o Índice de Preços ao Consumidor, que integra o IGP-M, se mantém estável, tendo passado de 0,23% na segunda prévia de julho, para 0,26%, no mesmo período de agosto.
A alimentação continua sendo a principal influência na formação da taxa, com alta de 0,84%, inferior à do mês anterior, de 0,88%.
— Mas é possível esperar alta de preços de alimentos puxada pelas carnes, pela soja e pelo milho nos próximos meses — afirmou o economista do Ibre/FGV.