Representante da Contag avalia como insuficiente decreto que institui política de agroecologia no país

Carmem Foro afirma que governo deixou de fora elementos fundamentais para a execução prática da agroecologiaO Decreto que institui a Política de Agroecologia e Produção Orgânica, publicado na segunda, dia 20, no Diário Oficial da União, aponta para um futuro de valorização da atividade, mas ainda é insuficiente para a implantação de um projeto agroecológico efetivo no país. A avaliação é da secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Carmen Foro.

Ela participou nesta terça, dia 21, de um debate sobre agroecologia durante o Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas. O evento ocorre esta quarta, dia 22, em Brasília.

— Ainda estamos analisando (o documento), mas achamos que o governo tinha que ter incorporado um conjunto de proposições que fizemos. O decreto tem princípios que saíram da agenda que formulamos, mas ainda deixou de fora elementos fundamentais para a execução prática da agroecologia e não dá conta dos desafios que temos. Não é possível, por exemplo, haver agroecologia sem reforma agrária ou sem investimentos e isso não está de forma clara no decreto — disse.

O documento define como diretrizes da política, entre outros elementos, a promoção do uso sustentável dos recursos naturais, a valorização da agrobiodiversidade e dos produtos da sociobiodiversidade, o estímulo às experiências locais de uso e conservação dos recursos genéticos vegetais e animais, e a ampliação da participação da juventude rural na produção orgânica e de base agroecológica.

Outro fator considerado primordial pela representante da Contag, para a implantação de um projeto agroecológico no país, é o de combater as desigualdades de gênero no campo. Segundo Carmen Foro, essas desigualdades são “evidentes”, embora não sejam traduzidas em números.

— Temos poucos números que retratem essas desigualdades, mas a prática demonstra que isso existe de forma muito perversa. Não teremos um projeto agroecológico se não enfrentarmos a divisão sexual do trabalho e a violência contra as mulheres no campo, por exemplo. Não adianta cuidar para que as formigas não morram se mulheres são espancadas — destacou.