Quebra de contratos pelas indústrias causa insegurança no mercado de algodão

Volatilidade nos preços da fibra aumentou inadimplência no setorO aumento na  quebra de contratos feitos pelas  indústria tem provocado insegurança no mercado de algodão. A volatilidade dos preços aumentou a inadimplência no setor, o que tem causado reflexos no mercado. Para solucionar o problema, há quem defenda, inclusive, mudanças nos mecanismos de proteção dos contratos.

Há pelo menos duas safras a oscilação de preços tem mexido com o mercado. Começou em 2010, quando os produtores resolveram não cumprir os contratos devido à alta dos preços, que subiu de R$ 1,30 a libra/peso na época da assinatura do contrato para R$ 4,15 na hora de entregar o produto.  Agora, a situação se repete com a indústria. Muitas não cumpriram o que foi assinado porque o preço caiu desde a época em que foi firmado o contrato. 

Segundo a corretora Maria de Lourdes Yamaguti, cerca de metade dos acordos foram desfeitos.

– Desde 2010, 50% dos nossos negócios são renegociados e alguns totalmente cancelados- disse.

Com a volatilidade dos preços, sobrou para quem faz o meio de campo no negócio. Marco Antonio é diretor de uma trading em São Paulo na qual, por ano, comercializa em torno de 150 mil toneladas de algodão, dos quais 60% são destinados à exportação. Devido à quebra de contrato por parte das indústrias, um terço dos acordos com clientes ou estão sendo renegociados ou estão na justiça, em arbitragem.

– A questão agora é fazer com que os contratos mantenham a sanidade, que as arbitragens sejam cumpridas e que os mercados entendam a importância de se honrar os contratos – salientou.

Para o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão, Marcelo Escorel, o problema é maior para o mercado externo. Escorel cita o caso de países como  Bangladesh, que possui uma indústria têxtil mais recente, e que não havia passado ainda por um período de volatilidade tão grande, que fez muitas indústrias rescindirem os contratos. Na opinião dele, a situação não foi tão grave no Brasil porque o mercado está  maduro, o que resultou em poucos casos de quebra de contrato.

Escorel lembra o trabalho feito pelo conselho de ética do setor, criado há pouco mais de cinco anos, o qual evita que muitos casos cheguem à arbitragem e, posteriormente, à justiça. O presidente admite, no entanto, que mesmo tendo sido pior no exterior, a situação também refletiu no mercado interno.

Pelas regras do setor de algodão, quem não cumpre um contrato é julgado no processo de arbitragem e pode cair na lista de inadimplência. No mercado interno, o processo é feito pela Bolsa Brasileira de Mercadorias, enquanto que no âmbito internacional o controle é da Associação Internacional do Algodão, conhecida pela sigla em inglês ICA. Até julho deste ano, 74 empresas foram incluídas na lista divulgada pela associação.

Segundo Maria de Lourdes, que atua também como árbitra nos processos de quebra de contrato, a situação só vai mudar mesmo se forem criados novas formas de proteção. 

-A gente tem que buscar mecanismos de proteção e voltar ao que era o mercado de algodão antes, que era o mercado do antigamente – disse.

A Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa) disse que os produtores estão cumprindo rigorosamente os contratos e que o problema entre as indústrias e as tradings não causou impacto na produção.

>>> Confira o site Cotações