Conheça a logística da produção de carne no Brasil

Na Estrada deste sábado traçou o mapa do produto no país desde a criação nas grandes fazendas no norte de Mato GrossoO Canal Rural Na Estrada desse sábado, dia 8, mostra a exportação da carne bovina, que sai do norte de Mato Grosso e viaja mais de dois mil quilômetros até o Porto de Santos. Confira o difícil caminho por estradas esburacadas, e o custo da logística, que fica ainda mais cara com a burocracia dos portos.

Assista ao programa na íntegra:

 

Alta Floresta (MT)
O Canal Rural Na Estrada foi até Alta Floresta, no extremo norte de Mato Grosso, quase na divisa com o Pará. Localizada já na bacia amazônica, a cidade é cercada pela fauna típica da região.

Foi nesta área que a partir da década de 1970 chegaram os primeiros criadores. Mais de trinta anos depois, a região virou uma referência na criação de gado extensivo.

O ponto de partida é o frigorífico da JBS. No local, o repórter João Henrique Bosco encontra com a equipe que vai buscar o gado na área rural da região. Pela frente, eles têm um caminho difícil de estrada de chão.

– Vai dar mais ou menos uns 120 km. São três caminhões, mas um já está lá na fazenda. São 102 bois. Tem um pedaço de asfalto, mas depois é só terra. Vocês vão sentir o drama, como é o norte de MT – diz Adriano Carvalho, gerente da JBS.

A situação é a realidade dos caminhões que precisam diariamente buscar o gado nas fazendas.  Eles trafegam muitos quilômetros por estradas de chão ruins, com buracos, muitas vezes sem acostamento. Se com o tempo seco, com sol, é complicado, imagina quando chove como deve ser a situação para eles. Deve ser bem pior.

É uma viagem que normalmente duraria uma hora, até menos que isto, mas demora bem mais em função das condições da estrada. A cada caminhão que passa, a poeira levanta.

Depois de três horas de viagem, a equipe do Na Estrada chega. Os caminhões estão no local, assim como todos que vão embarcar o gado. Os animais já estavam separados no curral, o que agilizou o processo de embarque.

Em pouco mais de uma hora, todos estavam prontos para novamente pegar a estrada. A viagem de volta é pelo mesmo caminho, com as mesmas dificuldades, só que desta vez com o carregamento de gado.

Depois de uma parada para almoçar, a equipe volta para a estrada. É tanta poeira que levanta com os caminhões passando que a equipe não consegue enxergar praticamente nada e precisa ir muito devagar para evitar algum acidente.

A chegada ao frigorífico ocorre só no final da tarde. É o início de uma segunda etapa que inicia no desembarque do gado.

– Este é o processo final, onde o boi vai descansar, se hidratar, beber água, para amanhã estes animais serem abatidos. Aquela etapa de estrada, fazenda, já terminou. Agora começa aqui um processo totalmente diferente – explica o gerente de compras da JBS, Adriano Carvalho.

Dentro da sala de cortes do frigorífico da JBS em Alta Floresta, o trabalho começa cedo.

– Passa por aqui algo em torno de 40 toneladas de carne já desossada por dia. Nós gostaríamos de produzir mais, algo em torno de 80 ou 90 toneladas – diz o gerente industrial José Fernandes Vilarindo.

A carne industrializada vai para exportação e também para o mercado interno. O caminhão carregado, vai pegar a estrada em direção ao Rio de Janeiro para distribuir lá toda a carga. É um longo caminho.

– Até lá são três mil quilômetros. É muito chão. No Estado de São Paulo é bom, mas até chegar as estradas não estão boas. Tem buracos, não tem acostamento, são muitos acidentes. É complicado – conta o motorista Luís Carlos de Oliveira Lima.
De volta ao interior do frigorífico, a equipe visita a sala onde os contêineres são carregados. O assunto agora é exportação.

No local, um contêiner está sendo carregado com miúdos que vão para Hong Kong. São cerca de 25 ou 26 toneladas que estão sendo carregadas na esteirinha, o que demora duas horas. O contêiner encaixa na sala de expedição. A caixa chega congelada.

– Eles consomem muito naquela região de Hong Kong rúmen, testículo, vergalho, aorta, medula, tendões.  Dificilmente  eles compram músculo anatômico tipo patinho, coxão mole e assim por diante – explica o gerente industrial da JBS, José Fernandes Vilarindo.

Do lado de fora, o caminhão encaixa na sala de expedição e é carregado. São 27 mil quilos. No Porto de Santos, vai pro terminal da Friboi.  Até lá, são em torno de 1,8 mil quilômetros. Até lá, muito pedaço ruim de estrada e muito buraco. Se tudo correr bem, o motorista vai levar entre dois dias e meio e três dias de viagem, acompanhada pelo Na Estrada.

Cubatão (SP)
Depois de uma longa jornada, a chegada em Cubatão, São Paulo, onde funciona uma peça estratégica na engrenagem da exportação: o terminal da JBS. É o destino dos caminhões carregados que a equipe mostrou lá no norte de Mato Grosso.

– Nós costumamos receber uma média de 80 a 90 contêineres por dia. Nós temos as tomadas de energia que ficam ligadas 24 horas e aqui você tem a temperatura dos contêineres, menos 18 a temperatura, ou seja rigorosamente dentro da exigência técnica do importador. Aqui você tem outro caso em que o importador está pedindo uma temperatura de menos 20. É uma exigência do país – explica o gerente do terminal JBS, Valter Bianchi.

Um outro contêiner acabou de chegar de uma das unidades, desacoplado, e vai ser ligado na tomada. Um contêiner de carne resfriada, provavelmente para Europa. Temperatura menos 1.4. Vai ficar sendo monitorado por esta temperatura durante o tempo que permanecer no porto e no navio também.

Até o momento do embarque no Porto de Santos, os contêineres ficam resguardados no pátio do terminal.

– O fato de você ter este terminal é que você consegue trabalhar junto com a sua transportadora a chegada e envio de mercadorias para atender as suas necessidades. Você tira o custo que a empresa teria no porto e transfere para sua facilidade que é um quinto menor do que se você estivesse operando no porto – afirma Bianchi.

A localização do terminal próximo a Santos minimiza um problema do setor: a burocracia envolvida na exportação.

– Nós aqui somos subordinados à alfândega do Porto de Santos. Permite que a gente faça todo processo de desembaraço aduaneiro junto a nosso terminal. o que evita uma burocracia muito grande. Temos a questão da vigilância Sanitária, que é o Vigiagro, cuja vistoria também inicia-se aqui – explica o gerente do terminal.

São Paulo (SP)
A maioria dos exportadores sofre com a burocracia. Antes da viagem a Santos, a equipe visitou a sede da Associação Brasileira das Indústrias Exportadora de Carne (Abiec), em São Paulo.

– O problema principal dos portos é a burocracia muito grande para você conseguir botar um contêiner na água. A burocracia é muito cara e demora. Para mandar um contêiner com 21 toneladas de carne, são US$ 690 só com burocracia e despacho, mais US$ 1,1 mil com operação e manuseio – diz o diretor da Abiec, Fernando Sampaio.

Segundo ele, os setores têm potencial para crescer, mas a logística fica para trás.

Santos (SP)
Já no Porto de Santos, a equipe foi informada sobre os projetos que estão em andamento para agilizar o processo de exportação.

– Investimos na dragagem de manutenção, de aprofundamento. Estamos terminando de retirar um navio do fundo do mar, um naufrágio que tem 38 anos e a gente terminou de retirar as peças. Tudo para que a gente possa ter uma navegação mais segura e que os navios cheguem mais rápido aos terminais. Isto vai proporcionar uma navegação em mão dupla por todo canal. Então o navio não precisa mais esperar o outro sair para ele entrar. Pode trafegar em mão dupla com uma calha mínima de 220 metros – defende o gerente de promoções da Codesp, Wagner Gonçalves.

No final da entrevista, a equipe foi convidada a conhecer as obras. O Canal Rural Na Estrada então pega carona em um barco e vai percorrer o cais do porto em Santos.

A obra já está projetando um crescimento futuro. Serão pelo menos 50% mais de capacidade de movimentação de contêineres pelo Porto de Santos, o que significa um aumento considerável sobre um número que já é alto, vem crescendo e anima os exportadores.

Em 2011, o Brasil vendeu mais de 800 mil toneladas de carne bovina, que saíram do país em navios carregados com os mesmos contêineres que acompanhamos desde o norte de Mato Grosso, passando por estradas, chegando ao porto e agora, na última etapa deste processo, indo embora pelo oceano, bem ao lado da equipe.

O porto de Santos é um local onde saem navios para todos os lugares do planeta. O que passa pelo lado da lancha é apenas mais um.