Na Bahia, o treinamento e os muitos cuidados com os cavalos da raça quarto de milha que participam das etapas da vaquejada. Saiba mais sobre o transporte de animais caros e a viagem até as competições.
Santa Maria (RS)
São 4h da manhã e a equipe do Canal Rural Na Estrada acorda em Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul. Em três horas, precisa chegar ao destino: Júlio de Castilhos, para acompanhar o embarque dos cavalos crioulos.
Júlio de Castilhos (RS)
O dia já está claro quando eles chegam à Fazenda Água Funda, onde alguns dos cavalos que disputam as etapas do Freio de Ouro são treinado.
É uma dificuldade chegar. Com a chuva, a lama e a estrada de chão, o caminhão não consegue subindo.
A chegada é no dia da avaliação médica dos cavalos crioulos. O aparato levado pelo veterinário até o centro de treinamento é impressionante. Uma cena que há 10 anos não seria fácil nem de imaginar.
– Trabalho sempre com computador. A gente tem uma imagem radiográfica, radiologia digital, imagem na hora, para saber de que maneira proteger ou corrigir um problema. Antes, quando eu vinha aqui fazer uma radiografia tinha que ir lá no hospital revelar. Quando tinha condição de um hospital para revelar, perfeito, eu ia e voltava. Mas às vezes isto não existe. Tem que ir para casa revelar e voltar aqui – explica o veterinário Rolando Peres.
O trabalho agora é realizado dentro da unidade móvel.
– Tem raio X, endoscopia, odontologia. Tudo na hora. Tem de tudo aqui, estoque de material preparado para competições mesmo – acrescenta Peres.
O nível alcançado graças ao profissionalismo empregado hoje no Freio de Ouro.
– A gente chegou a um nível que o detalhe faz a diferença, então a gente já vem utilizando o modelo humano, já dispõe de radiologia digital, endoscopia, até mesmo a ressonância magnética muito utilizada, mesmo com poucos aparelhos no Brasil, mas já se lança mão para chegar até lá e ser o mais perfeito possível com o atleta – diz o veterinário.
Cabeceiras do Paraguaçu (BA)
A mais de três mil quilômetros, na Fazenda São Francisco, em Cabeceiras do Paraguaçu, na Bahia, em vez do cavalo crioulo, o quarto de milha. No lugar da tradição do Freio de Ouro, a vaquejada!
As raças são diferentes, as regiões também. Tanto no Freio de Ouro como na vaquejada, competições muito acirradas, a dedicação de cada um para com seu animal é impressionante.
O plantel da fazenda é de respeito.
– Ela é bem cotada e tem um dos nossos garanhões que chama El Apolo Tiers que é um animal bem cotado para este Potro do Futuro. A expectativa do pessoal da fazenda é muito grande – diz o veterinário Maurício Suassuna.
O animal é bastante premiado, conhecido no meio, já tem 12, 13 anos, como é o preparo de um animal como este que já esta idade na véspera da competição.
– Este animal apesar de ser rodado, premiado, também tem que ter um preparo bem especial. Ele chegou ontem de viagem, estava em Pernambuco. Normalmente quando o animal está em viagem, a gente coloca ele em um piquete para dar uma relaxada, depois faz uma aplicação de soro, para dar um reidrata porque o estresse de viagem é grande e o animal desidrata bastante – explica Suassuna.
– Tem que passar xampu, passar bucha, limpar os cascos, xampuzinho especial, melhor do que eu. É importante porque você não vai dormir sem tomar banho. É a mesma coisa os animais: se você colocar um animal sujo na cocheira, ele não vai se sentir bem. No dia da prova, está bonito e mais desenvolvido – diz o funcionário da fazenda, Modesto Bastos Barbosa.
Antes da competição, o treinamento é mais leve, mas essencial para o condicionamento dos cavalos.
– A importância deste treinamento é condicionar os animais e fazer com que os animais fixem o trabalho que está sendo feito tanto a parte de condicionamento físico como condicionamento de treinamento. Eles estão posicionados na espera do boi. A gente chama a sangra, o cavalo encostado na saída do boi. É um momento de muita tensão, porque saída do boi é muito importante para o resultado da corrida – ensina Maurício Suassuna.
Júlio de Castilhos (RS)
De volta ao Rio Grande do Sul, outro treinamento está iniciando. A conversa agora é com Daniel Teixeira, ginete premiado e conhecido no circuito do Freio de Ouro. A Fazenda Água Funda prepara diariamente de 25 a 30 animais.
– Para um cavalo participar da primeira prova, o treinamento vai de oito meses a um ano – explica o ginete Daniel Teixeira.
O pessoal já está pronto para fazer o embarque e prepara o caminhão onde vão os cavalos. No espaço, dá para levar três ou quatro animais.
– Aqui vão quatro cavalos, dividido por box, com piso de borracha, antiderrapante .O piso aqui é especial para o animal não escapar, firmar o animal, vão comendo para aliviar o estresse de viagem, daqui até Carazinho em três horas ou três horas e meia – mostra Teixeira.
Cabeceiras do Paraguaçu (BA)
Na Bahia, a equipe mostra outro caminhão por dentro. Este parece diferente, mais moderno. A estrutura é feita tanto para não machucar os animais como para dar conforto ao pessoal.
As duas laterais viram camas e um ar condicionado vai resfriar o quarto. A televisão completa o conforto para o peão. O caminhão vira uma suíte!
O motorista que vai levar os animais até Feira de Santana (BA) é o Chico Onça. Ele é um cara muito conhecido na região.
– Temos muito cuidado com os cavalos, já que tem dinheiro em jogo – diz Onça.
Uma câmera então é instalada na cabine do caminhão para fazer imagens da viagem. O objetivo é ver quais os cuidados na direção no momento do transporte.
O motorista é um ex-vaqueiro que participava de vaquejadas. Mais do que isso: um ex-vaqueiro super premiado que só parou com a atividade porque sofreu um grave acidente. Ele mostra para a equipe os troféus que já ganhou.
Como neste caso a viagem é curta, não é preciso parar para olhar os animais. Lá no Rio Grande do Sul, a situação é diferente.
Cruz Alta (RS)
– A gente faz uma parada para ver como os animais estão. Se estão bem, quentinhos, confortáveis. Se estiver frio, é só botar a capa deles. A gente procura ir bem devagar senão eles vão se batendo. Fica uma viagem incômoda para eles. Tem que cuidar com os buracos na estrada. Tanto para eles como por causa de acidente – explica o ginete Daniel Teixeira.
Mesmo com os cuidados, o caminhão que vinha logo atrás da equipe furou o pneu.
Carazinho (RS)
Todos os veículos que transportam os animais pela estrada vão para o acampamento. Os caminhões grandes têm espaço para vários cavalos, enquanto nos menores cabe apenas um animal. A variedade é muito grande por aqui!
– Tem gente de tudo que é lugar – diz o ginete Fabrício Macedo.
O pessoal chegou mais cedo, já montou equipamento e está até fazendo o almoço.
São Gonçalo dos Campos (BA)
Na Bahia, a situação também não muda muito. O pessoal fica todo acampado em caminhões, e o lugar onde eles ficam tem até um nome, é a chamada Cidade do Vaqueiro. Eles ficam descansando e esperando a hora das provas.
Todo aquele processo de cuidar dos animais, o embarque do caminhão, é tudo para ficar bacana e ter uma festa bonita.
Carazinho (RS)
– De tardezinha dá uma alongada, uma desestressada para eles conhecerem a pista e amanhã é aguardar a hora da prova. A gente tem cozinheiro. Aí fica só pela prova – diz o ginete Daniel Teixeira.