Em uma comunidade no interior de Uberaba, em Minas Gerais, vivem 70 famílias de produtores rurais. Antonio Bernardes de Oliveira é um deles. Ele cria gado. Em Mata da Vila, o nome dado ao lugar, Antonio é uma figura respeitada. Tem muita experiência no campo, já morou em outros municípios e tem histórias que é até difícil de acreditar. Ainda hoje, diz ele, é preciso um jeitinho pra se conseguir alguma melhoria por aqui.
– Tem que ter uma moeda de troca. Antigamente a gente brincava muito. Eu te dou uma leitoa para você fazer a estrada até lá em casa. Eu te dou uma galinha pra você levantar a boca do mata burro, eu te dou uma novilha para você montar o mata burro para mim. Como se fosse dele, e na realidade ele é apenas um governador daquilo que é nosso, sem esta moeda de troca ainda não tá funcionando – diz Antonio.
A situação das estradas é que mais compromete a produção de Mata da Vila. Já houve dias em que as verduras colhidas foram jogadas fora, porque não deu para transportar.
– Aqui a gente tem que pedir favores. Favores a terceiros, favores à prefeitura, favores à firma que está passando por ali e assim por diante. Não há uma atenção a nós – fala.
No alto da sua experiência, Antonio Bernardes de Oliveira diz o que mais falta no lugar além de estradas boas. Atenção aos produtores.
– Apesar de tudo, é o produtor rural que sustenta a cidade. É daqui que vem o leite. Ele não está dentro da geladeira. O leite sai daqui. O arroz está aqui. O feijão está aqui. Se a sociedade urbana não encarar isso dessa maneira e der valor ao produtor rural, como que ela vai sobreviver? Ela não vai colher arroz na geladeira, ela não vai colher arroz no supermercado – declara Antonio.
O município de Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul, é muito conhecido pela produção de arroz. Tem pelo menos 30 mil hectares de plantação. Os produtores plantam muita soja também. Estimativas indicam que a produção passe de 130 mil toneladas por safra. Toda essa produção passa por estradas em condições ruins, em caminhões com 40, até 50 toneladas de grãos. Os produtores dizem que prefeitura até passa a máquina para melhorar, mas não é o suficiente.
– Nós temos que trabalhar por políticas públicas que tenham um plano de reestruturação de estradas, que tenha conservação de leito, abertura de valetas para que a água não fique empoçada no leito, visto que aqui os solos ficam alagados e não adianta só passar patrolas. Tem que ter uma reestruturação das estradas para isso – diz um produtor rural da cidade.
É equivocada a estratégia das administrações municipais que não dão atenção ao campo, principalmente nos municípios essencialmente agrícolas, diz a professora Jaqueline Quersemin, especialista em eleições.
– Quem administra, administra para uma cidade. Uma cidade pode ter uma área rural grande, pode ser essencialmente rural ou pode ser uma área mista. Então ele tem que pensar a questão da agricultura enquanto desenvolvimento do município – diz Jaqueline.
Em município que tem base econômica agrícola, o desenvolvimento passa literalmente pelas estradas. Tão importante talvez quanto educação, saúde, saneamento é a infraestrutura de transporte para a produção agrícola nestas regiões. Em Mogi Mirim, no Estado de São Paulo, as estradas até são boas se comparadas com muitas outras no país, mas para os produtores que usam este caminho todos os dias, a estrada significa prejuízo.
– Na verdade são vários problemas. Problemas de buracos na hora em que as chuvas aumentam. Há também um grande problema de pó devido à produção de flores nas margens da estrada – fala o produtor rural Clairson Tagliari.
Tagliari tem uma empresa de beneficiamento de frutas para exportação. A fábrica fica do lado da rodovia. Em volta do prédio, ele mandou asfaltar tudo. Investiu sozinho para minimizar as perdas.
O caminho que Tagliari usa é uma estrada vicinal, ou seja, que liga uma comunidade à outra. Ela vai de Martim Francisco, em Mogi Mirim, a Holambra, em São Paulo. São 13 quilômetros com alguns buracos e muito movimento. Com tempo seco, muito pó também. Nela são transportadas as produções de laranja, limão, flores e até cana-de-açucar.
– São prejuízos incalculáveis que, dependendo da época do ano, se agravam mais – diz Clairson Tagliari.
Para a professora e especialista em eleições Jaqueline Quersemin, não adianta só falar em desenvolvimento sem mostrar os caminhos que levem a ele.
– Não adianta você falar que tem que desenvolver. Você tem que mostrar quais os caminhos. Então, primeiro o escoamento da produção. Segundo, o acesso real às linhas de financiamento. Se você não desenvolver as economias locais e regionais, fizer arranjos produtivos que consigam potencializar as ações daquele lugar, nós não temos como desenvolver – declara Jaqueline
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